Nunca na história da minha vida - para parafrasear nosso estadista que se despede pero no mucho - consegui ler um livro por vez. Por quê, ó, senhor, por quê? O resultado disso é que frequentemente me pego sonhando sonhos que misturam enredos. Personagens de ficção interagem com narradores de autobiografias, romances que começam num chick-lit terminam num ensaio sobre tradução, crônicas de costumes norte-americanas invadem sem pudor a saga de irmãs chinesas sem nome.
Será que vem daí minha total, eterna e histórica incapacidade de citar trechos de memória, reconhecer autores por uma única frase ou relembrar ipsis litteris o começo inesquecível de algum texto, como tão bem faz o Todoprosa Sérgio Rodrigues? Deve estar aí também a origem da minha absoluta incompetência para creditar espontaneamente argumentos alheios em argumentos próprios. Confesso: tenho a sensação presunçosa de que, lido o argumento e absorvido pelas minhas sinapses, ele passa a ser meu também.
Olho agora para a pilha na minha mesa de cabeceira e a fileira na estante dos livros catalogados mentalmente como "em processo de leitura" ou "a ler" e me dou conta de que definitivamente não vai dar tempo. Principalmente ao pensar naqueles que estão ao meu redor, ainda esperando o momento de entrar em alguma dessas filas.
Antes que o querido leitor se pergunte, tem propósito nenhum este post, não. Só um pequeno desabafo provocado pela indecisão que me impede de ir logo deitar: qual livro ler hoje antes de dormir?
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