Não consigo nem imaginar a cara que eu faria se alguém me dissesse, em 1992, quando eu estava entrando na faculdade, que dali a vinte anos (e só dali a vinte anos) eu teria uma filha e daria graças aos céus quando fosse desligada da empresa em que estava num cargo bacana, fazendo um trabalho de que eu gostava com gente querida e ganhando um belo salário no dia da volta da licença maternidade. Primeiro, porque eu sempre "soube" que seria mãe aos 28 anos (em 2002, portanto). Segundo, porque os planos desde a adolescência (porque nunca cogitei de não ser mãe) eram ser uma working mom moderna, daquelas que tem apenas duas horas por dia para dedicar ao filho, mas que as dedica ao máximo. Ponto.
Daí vieram os tais 28 anos, e a gente estava de mudança para São Paulo. E eu nunca que teria filhos em São Paulo. Aos 30, quando voltamos, retomamos o projeto. Mas, como as coisas nem sempre (ou quase nunca?) saem como planejamos, o filho não vinha nunca. E daí que nos oito anos seguintes a gente mudou de emprego, comprou casa nova, viajou, fez novos amigos, fez tratamento que não deu certo, trocou de médico, trocou de carro, viajou, fez mais novos amigos, fez mais tratamento que não deu certo, chorou, desistiu de ter filho, invejou amigos com filhos, sofreu a morte de um cachorro velhinho, adotou uma nova cachorrinha.
Aos 37 anos, depois de muita conversa e de conscientização de que viver sem filhos não seria o fim do mundo, afinal, decidimos que faríamos uma última tentativa. Eis que essa "última tentativa" está engatinhando aqui do meu lado, faceira, faceira, às vésperas de completar 11 meses. E eu estou escrevendo este post correndo, porque preciso retomar a revisão de um trabalho que preciso/quero entregar ainda hoje. Como, felizmente (hoje posso dizer isso), os planos de ser mãe aos 28 deram errado, tive a possibilidade de consolidar uma carreira de tradutora em paralelo à de jornalista, quase que por diletantismo. E a carreira paralela virou carreira principal. E todos estamos vivendo felizes para sempre até o próximo imprevisto.
Porque o maior aprendizado de tudo isso foi que planejar toma tempo demais da vida que a gente poderia estar vivendo. E que fazer o que não nos dá muita paixão apenas pela grana não vale a pena.
PS.: Decidi escrever este texto depois de ler um dos posts da blogagem coletiva proposta pelo blog Mamatraca, no SuperDuper. Fugi um pouco do tema, mas espero não ser eliminada por isso ;-)