O dia se espatifa: outubro 2007

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Bem-vindos à casa nova

A dona da casa: porto-alegrense filha da Alair e do Jurandir desde 1974, irmã da Carolina desde 1977, paulistana de 1980 a 1983 e de 2001 a 2003, sorocabana de 1983 a 1990, anchietana em 1991, estudante de jornalismo de 1992 a 1995, cara-pintada com senso crítico em 1992, %22Cara Nova%22 da RBS TV em 1995, produtora do Mulher & Cia da TVCOM de 1995 ao fim do programa, aluna do curso de jornalismo aplicado da RBS em 1996, produtora da Tânia Carvalho no Falando Abertamente até o dia da morte da Princesa Diana, subeditora e repórter de política da Zero Hora entre 1997 e 2000, editora do Terra do dia do seqüestro do ônibus 174 até 2003, tradutora literária desde 1999, repórter do Correio do Povo em 2003, editora de Notícias do clicRBS entre 2004 e 2006, arquiteta de informação da RBS Internet e Inovação desde setembro de 2006, namorada do Márcio Pinheiro desde 1995, dona do Floc entre 1996 e o último dia 15, dona do Bubi desde 2002, fã dos Beatles desde 1985, doida por Chico desde 1979, colorada desde sempre, geek desde 1992, mestre-cuca diletante desde 1996, blogueira desde 2003. Misture tudo e, voilá: um comentário aqui, outro ali, sempre sobre qualquer assunto, sobre o que dá na veneta, sem muita lógica, sem temas definidos, com alguma coerência, muitas implicâncias e a eterna busca por um pouco mais de cor em tudo.

Convidada a trazer meus posts multitemáticos para o clicRBS, onde trabalho há quase quatro anos, reagi inicialmente com ceticismo. Jornalista, tradutora e arquiteta de informação, tudo ao mesmo tempo agora, sou incapaz de concentrar meus interesses numa área só. Com preguiça de ter um blog para cada assunto, acabei optando por este, que fala de tudo um pouco – e, claro, de quase tudo mal. Quem pode querer ler sobre algo assim tão indefinido?

Enfim, está lançada a semente. A casa antiga está sendo desativada (e o gerúndio aqui se aplica, já que o processo realmente está acontecendo aos poucos), mas fica lá com os arquivos de quatro anos repletos de nada específico.

Agora estou aqui. Seja bem-vindo à casa nova. Assine o RSS, venha sempre que possível e fique à vontade.


Postado por Cássia Zanon

Acendendo o refletor

Começa agora o processo de mudança. De para cá. Em breve, no blogroll do clicRBS.

Postado por Cássia Zanon

Cadê o livro?

Não sou uma acadêmica. Uma vez tentei ser, mas fui conquistada pela realidade.
A frase não é minha, ainda que pudesse ser, mas da escritora norueguesa Åsne Seierstad, a quem assisti hoje no Fronteiras do Pensamento. A palestra foi bacana – seguida por uma divertida e interessante participação do Moacyr Scliar –, mas o que me impressionou mesmo foi a beleza dela. Que mulher linda!

Saí de lá com vontade de ler O Livreiro de Cabul, que andou passeando pela minha cabeceira até eu desistir e achar que nunca leria. Agora preciso recuperá-lo, onde quer que ele tenha ido parar.

sábado, 27 de outubro de 2007

O incompreendido

Uma das muitas contradições que descobri cedo no Márcio, quando começamos a sair, em 1996, era que ele gostava, quer dizer, gostava não, ADORAVA o seriado Magnum, com o Tom Selleck, a ponto de ter vários episódios gravados em VHS. Como ocorreu com muitas dessas contradições, eu acabei sendo convencida (de verdade) do valor do seriado. Não é que é bom mesmo?

Pois hoje, lá no Jogo da Memória, ele escreve sobre Magnum a pedido do nosso querido amigo Raul Krebs.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Para dar risada

A L&PM tem quatro livros do Woody Allen à venda. Três foram traduzidos pelo Ruy Castro. O último, recém-saído do forno, por esta que vos bloga.

Azar, tô me achando. E o livro, Adultérios, é muuuuuito divertido.

domingo, 21 de outubro de 2007

Para começar bem a semana

Dando uma de Camila Saccomori no seu Fora de Série, vou usar uma inspiração serística pra começar a nova semana num astral melhor do que a que passou. No episódio de E.R. reprisado no fim de semana, a Abby fala para o Luka alguns versos deste lindo poema de e.e. cummings:
i carry your heart with me (i carry it in
my heart) i am never without it (anywhere
i go you go, my dear; and whatever is done
by only me is your doing, my darling)

i fear no fate (for you are my fate, my sweet) i want
no world (for beautiful you are my world, my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you

here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life; which grows
higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart

i carry your heart (i carry it in my heart)

Gente estúpida 2

Que até uma besta pouco informada como eu pode dizer que as artes plásticas contemporâneas estão repletas de picaretagem e imbecilidade é evidente. Agora... uma história como esta é de deixar qualquer um indignado.

*

Update: Ainda tenho a esperança de se tratar de um hoax.

sábado, 20 de outubro de 2007

Rapidinha

Só passei por aqui para confirmar o que muita gente boa já disse: Na Praia, do Ian McEwan é lindo, lindo. Leia.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Gente estúpida

Algum cretino escreveu a seguinte mensagem no meu post sobre a morte do Floc:
Este amor canino geralmente nutre casais que não têm filhos. Sendo estes jovens, caso não se trate de problema médico, pode ser falta de amor e/ou de sexo, disfarçados de "opção". Neste caso, o cãozinho escapou de uma fria, pois o ambiente deve ser bem neurastênico.
É evidente que essa pessoa sã e cheia de amor e sexo e que pelo jeito sabe tudo sobre a minha vida não se identificou. É minha política de vida não desejar mal a ninguém, mas juro que desta vez quase rompi com essa prática. Quase. Ao contrário, espero que essa criatura encontre ao menos um ser que a ame incodicionalmente, como um bichinho é capaz de amar.

Ah, sim. O comentário já foi devidamente deletado. Porque neurastênicos como eu não costumam aceitar agressões gratuitas muito bem.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Novo blog no pedaço

A Tati Klix, minha amiga e parceira de muito trabalho bacana no clicRBS, entrou finalmente pra Blogosfera com um blog superlegal sobre viagens. Passa por lá!

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Valeu, pessoal

Mila, Daniel Bit, Mana, Daniela, Lu Aquino, Riq, Lu Gerbovic, Jane, Fer Souza, Drica, Melissa, Aninha, Raul, FerCB, Cristine, Sérgio, Xuxu, Biba, Dante, Theo, Mães, Pai, tias, tios, Lê, Gabi, Aline, Diego, Paula, Rafa, Tati, Andrea, Cris, Roberta, Mônica, Fafá, Sérgio Augusto, Maria Lúcia, Emanuel, Cristine, Rose, Juliano, Marcia, Grazi, Bruna, Pati, Rosana, Fabiana, Fábio, Larissa, Daniel Brama, Cacá, Angel... obrigada a vocês e a todo mundo que nos ajudou – com mensagens aqui, no Bicharada e no Jogo da Memória, por telefone, e-mail, MSN ou pessoalmente – a enfrentar melhor essas primeiras quarenta e oito horas sem o nosso velho bicho.

Beijo bem grande em todos vocês.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Obrigada, Floquinho

(Sei que andas por aí, oiço os teus passos em certas noites, quando me esqueço e fecho as portas começas a raspar devagarinho, às vezes rosnas, posso mesmo jurar que já te ouvi a uivar, cá em casa dizem que é o vento, eu sei que és tu, os cães também regressam, sei muito bem que andas por aí.)
Este trecho lindo é o primeiro texto do livro Cão Como Nós, que o poeta e romancista português Manuel Alegre escreveu para lembrar seu cão Kurika e eu li na quinta-feira passada, com o Floc dormindo aos meus pés. Nesta madrugada, pouco depois da 1h, a duas semanas de completar 13 anos de idade, o Floquinho nos deixou.

Depois de quase 12 horas seguidas com uma respiração mais ofegante do que o normal, sofrendo a cada inspiração e expiração, ele descansou. Ficam conosco a saudade e a lembrança de tantas coisas que ele nos deu nos 11 anos e 1 mês que passou ao nosso lado, com direito a duas mudanças de cidade, quatro mudanças de casa, muitas idas à praia, passeios e ranzinzices.

Eu já tinha contado como ele entrou na minha vida, feito um mea culpa sobre ter esquecido do aniversário de 12 anos e relatado o começo da doença dele no Bicharada. No último dia 24 de setembro, ele se recuperou da última crise. Desta vez, infelizmente, não deu.

Reforço aqui o agradecimento ao comprometimento e à competência da nossa veterinária, Simone Wolffenbüttel, que nos ajudou a enfrentar os últimos momentos e a fazer com que as últimas semanas de vida dele fossem o mais tranqüilas e dignas possíveis, e à Gabi e à Rejane, da Cachorro no Mato, que tão bem cuidaram dele nos últimos anos e seguirão responsáveis pelo Bubi, que está visivelmente perdido, sem a principal referência dele dentro de casa. Obrigada também a todos os internautas que se envolveram na campanha "Força, Floquinho". Tenham a certeza de que toda energia boa que vocês mandaram para ele foi muito bem utilizada.

Estou triste, é claro, mas também estou muito feliz por ter tido esse bichinho na minha vida.

(Na foto acima, ele do jeito que mais gostava: na praia, fedendo a maresia e cheio de pega-pega.)

*

O Márcio também escreveu sobre ele aqui.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Das pautas que ainda vou fazer

Todo porto-alegrense que se preze é ou colorado ou gremista, ou não-petista ou petista, ou lê Zero Hora ou não, ou compra no Zaffari ou em outros supermercados. Nos quatro casos, sou do primeiro time. Nos três últimos casos, não sou radical. E nesses três últimos casos, sempre me arrependo quando tento dar uma chance ao outro lado. Não adianta. Mas este post é só sobre o último caso.

Eis que cerca de duas vezes por ano eu me abalo até o Big, que era da Sonae, hoje é da Wal-Mart. Normalmente quando quero comprar algo que, acredito, poderá ser mais barato por lá. Hoje, era uma mangueira. A nossa estava com sete anos e meio e estava mais para peneira do que qualquer outra coisa. Daí que me empolguei – realmente algumas coisas estavam mais baratas, como a caixinha de moranguinho a R$ 0,99 – e enchi o carrinho.

A caminho do caixa, comecei a cogitar de fazer ao menos o grosso das compras por lá todos os meses. E estava quase desistindo de ser uma "Zaffari person", quando lembrei do que mais me irrita no Big e no Nacional. O que são aquelas filas para pagar??? Porque elas são sempre enormes. E as pessoas sempre ficam hooooooooras nessas filas. Porque a menina do caixa sempre pára pra bater papo com o fiscal. E sempre dá algum problema com o cartão das pessoas na minha frente. E, claro, tem o fator empacotamento.

Porque fora do Zaffari é a gente que faz os pacotes. E "a gente" às vezes não tem consideração com as outras gentes que estão esperando para serem atendidas. Então tudo demora. E depois de meia hora à espera da minha hora de pagar (eu não estou exagerando) eu sigo bem-humorada só porque estou de folga num feriado, e isso ainda é algo que me deixa em êxtase, depois de doze anos trabalhando em todos os feriados, mas já estou quase 100% convencida de que os poucos pilas (porque moeda de porto-alegrense que se preze, afinal, é o pila) que estarei economizando quando for pagar não valem a pena mesmo.

É por isso que um dia eu ainda vou fazer a seguinte reportagem: a mesma lista de compras feita em dois súperes diferentes, um Zaffari, outro não. Os dois do mesmo tamanho. No final, quero ver qual foi o mais barato e em qual eu fiquei menos tempo na fila. Alguém se dispõe a publicar/veicular o resultado?

Não dá pra ler...

Tem um grande veículo diário de São Paulo que foi responsável pela minha iniciação como leitora de jornais. Que me fez querer ser jornalista e, pior, crítica de cinema. Há mais ou menos uma década, quando comecei a ter mais critérios em relação ao que ocupa meu tempo de leitora, resolvi abandoná-lo. Os parágrafos de uma frase só, a falta de trema, a oligofrenia de sempre explicar o básico, o enforcamento de Jesus Cristo, a pretensão de ser o mais moderno e necessário... tudo isso me irritava.

De vez em quando questiono essa decisão. Foi o que fiz no começo da semana, quando resolvi dar uma chance a uns cadernos que encontrei espalhados por aí. Li duas matérias. Uma delas se encerrava numa frase que ignorava retumbantemente o subjuntivo. (Por quê? Por que as pessoas ignoram o subjuntivo?) Outra delas falava duas vezes – não uma, mas duas – em "risco de morte". Pavor de quem vai atrás das regras do Pasquale. Pavor!

Ficou decidido, então. Até nova tentativa, sigo tendo a firme noção de que, esse jornal, não dá para ler.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Pra começar bem a semana

Vou dar um CTRL C + CTRL V descarado no meu querido amigo (e guru) Sérgio Augusto e reproduzir aqui o texto dele que saiu no caderno Aliás d'O Estado de S. Paulo deste domingo. Reproduzo porque não sei se o link estará valendo ainda amanhã. Reproduzo porque, como é de costume, ele escreve com brilhantismo o que um dia eu gostaria de conseguir escrever com pelo menos competência.
Deu a louca no globo
Mianmar ou Burma? Pequim ou Beijing? Mumbai ou Bombaim? A geopolítica nunca foi tão semanticamente complicada

Sérgio Augusto

Criticaram o presidente Bush por chamar Myanmar de Burma, a nossa velha conhecida Birmânia, onde há semanas o pau voltou a comer grosso. Em seu blog na revista The Atlantic Monthly, o jornalista James Fallows saiu em defesa do presidente, que, a seu ver, teria demonstrado respeito ao oprimido povo birmanês ao desprezar o nome imposto àquele país por uma junta militar, já lá se vão 18 anos.

Para Fallows, aceitar Mianmar significa curvar-se aos caprichos dos generais que se recusaram a dar posse e mantêm sob vigília a primeira-ministra (e Nobel da Paz de 1991) Aung San Suu Kyi. As corporações que lá mantêm negócios, como a General Motors, a Caterpillar e a UnoCal, continuam se lixando para as atrocidades dos milicos birmaneses e, mais ainda, para a controvérsia semântica em curso desde a semana passada.

Antes de erguer um brinde à sensibilidade e à coragem política de Bush, considere duas coisas: 1) a desimportância econômica de Mianmar (muito arroz, muito ópio, muitíssimo menos petróleo que o Iraque); 2) a dificuldade de Bush para pronunciar corretamente Myanmar (Burma é fácil).

Embora saiba pronunciar o novo nome da Birmânia, e até uma de suas variações: Mranma, também prefiro Burma. Mais por razões afetivas do que políticas. Cresci ouvindo falar em Burma e Birmânia, locação e referência em filmes como Objective Burma (Um Punhado de Bravos, 1945), A Harpa Birmanesa (1956) e A Ponte do Rio Kwai (1957). A ponte sobre o rio Kwai uniria a Birmânia ao Sião. Quando o filme foi rodado, Sião já era Tailândia havia oito anos, mas o país onde foram feitas as filmagens só deixaria de ser Ceilão (para virar Sri Lanka) 15 depois.

No globo terrestre, é grande e permanente a confusão nomenclatória. Só quem tem mais de 77 anos, por exemplo, pegou Constantinopla como a capital da Turquia. Só descobri, garoto ainda, que Istambul outrora se chamara Constantinopla num disco de Caterina Valente, em que também aprendi que Nova York fora, um dia, Nova Amsterdã. Com o surto de independência das colônias africanas e asiáticas, na virada dos anos 50 para os 60, e mesmo antes disso, nossos conhecimentos geográficos tornaram-se ainda mais precários. E os atlas passaram a sair da gráfica já ultrapassados.

Saiu Pérsia, entrou Irã. Onde antes ficava a Abissínia surgiu a Etiópia. Mali era o Sudão Francês. Em 1945, a capital da Indonésia dormiu Batavia e acordou Jacarta. A Indochina virou Vietnã. Ao Congo sucedeu o Zaire, embora Congo seja o nome “autêntico”. São Petersburgo voltou a ser São Petersburgo após ter sido Petrogrado e Leningrado. Rodésia e Basutolândia agora são, respectivamente, Zimbábue e Lesoto. Benin foi Daomé até 1975. Quando em suas savanas filmaram Hatari!, Tanzânia (ou Tanzanía, na pronúncia local) chamava-se Tanganica. Fui e voltei de um safári africano, em 1984, sem me dar conta de que, enquanto fotografava a bicharada no Quênia e Tanzânia, o presidente Thomas Sankara rebatizara o Alto Volta de Burkina Fasso.

O jornalista escocês Alex Massie entrou na discussão provocada por James Fallows e sugeriu que nos recusássemos a dizer Mumbai, em vez de Bombay (Bombaim), e Chennai, em vez de Madras. Crente que estava robustecendo seu argumento, perguntou se os povos de língua inglesa, por acaso, dizem Venezia, München e Köln, em vez de Venice, Munich e Cologne. Mais do que uma discussão bizantina, um festival de equívocos.

Primeiro equívoco: Mianmar não foi uma invenção do general Saw Maung e seus golpistas amestrados. Marco Polo já teria usado essa palavra, oito séculos atrás. Como a primeira tribo com que os indianos lá toparam não se chamava Mianmar, e sim Brahma, Brahma vingou e virou Burma (pronuncia-se Bã-ma), com o império britânico lá dando as cartas a partir de 1885. Burma, portanto, não é um nome “puro”, mas batismo colonialista - como Bombaim e Madras. Não bastasse, Mianmar é um termo mais inclusivo, pois os birmaneses constituem apenas uma parcela da população, dividida em diversas etnias.

O que fazer? Consultar a população sobre sua preferência, sondagem que a junta militar birmanesa na certa impediria. Ou adotar o que a ONU sancionou.

Dizem que Aung Suu Kyi prefere Burma. O jornal tailandês Bangkok Post continua chamando Mianmar de Burma e Yangon de Rangoon (Rangum). Pois é, até o nome da capital a junta mudou, assim como os de outras localidades: Arakan, Karemi, que há tempos se chamam Rahkine e Khayahn. Ainda bem que mantiveram Mandalay. Num e-mail ao New York Times, o birmanês Maung Lwin defendeu Burma, afirmando que seus conterrâneos ainda dizem “Bã-ma” e receiam ser identificados pelo gentílico “myanmese” - e apelidados de maionese. A ONU aceitou Mianmar.

Segundo equívoco: Mumbai e Chennai não foram impostos por um governo ilegítimo ou uma ditadura sanguinária. São opções nacionalistas, livremente implementadas e com base em identidades milenares e fidelidades lingüísticas, o oposto de Bombaim (corruptela do português “Boa Bahia”), Madras, Calcutá (agora Kolkatta) e Bangalore (oficialmente Bengaluru), denominações tão forasteiras quanto Flórida (era assim que os conquistadores espanhóis se referiam à América do Norte no século 16) e Virgínia (a versão britânica da Flórida espanhola). A propósito, Mumbai é uma homenagem a Mambadevi, uma deusa de pedra do século 3º.

Terceiro equívoco: por que não rejeitar todos os nomes de países e cidades estabelecidos por governantes que chegaram ao poder de forma ilegal e violenta? Sim, daria a maior confusão. E se ameaçasse os interesses das grandes corporações globalizadas, babau. Isso não significa que devamos nos bater para que a ONU, a Casa Branca e as nações livres do Ocidente se recusem a chamar Pequim de Beijing, Cantão de Guangzhou, Nanquim de Nanjing, e, em represália ao repressivo governo da China (Zhongguo para os nativos), adotem o nome pelo qual os tibetanos se referem ao monte Everest: Qomolangma (Mãe do Universo). Falando nisso, os nepaleses o chamam de Sagarmatha (Rosto do céu). Também serviria, caso a represália tivesse algum sentido prático.

Quarto equívoco: estão confundindo o que se supõe politicamente correto com meros casos de heteronomias e transliteração. Pequim (ou, à inglesa, Peking) não virou Beijing, nem Mao Tsé-Tung agora é Mao Zedong, por teimosia ou rompante autoritário dos chineses. Beijing, como Zedong, Guangzhou (ex-Cantão) e tantos outros vocábulos com os quais convivemos há mais de um século, não é um rebatismo, mas uma reanglicização mais próxima do foneticismo (ou da pronúncia) mandarim. Como não usa o alfabeto romano, a língua chinesa tornou-se escrava da transliteração. Há mais de um século, o sistema de romanização Wade-Giles dicionarizou Peking, Canton, Nanking, etc. Beijing é fruto do sistema mais moderno de Hanyu Pinyin.

Que ninguém perca o sono por causa dessas bagatelas semânticas. Até porque, no Brasil, a gente não pede “Peking duck”, mas pato laqueado.

sábado, 6 de outubro de 2007

Reclame familiar

Então o Márcio, a partir desta segunda, passa a ser o novo editor da página 3 de Zero Hora. A novidade saiu na própria deste domingo, com fotinho e tudo. A foto tá feia, mas é ele aí, sim.

O rapaz segue assinando a coluna e o blog Jogo da Memória.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Falou e disse

O "jornalista dos jornalistas" John Lee Anderson foi categórico hoje diante da platéia do Fronteiras do Pensamento: não existe essa tal de neutralidade jornalística. Segundo ele, pode-se até falar em "objetividade", mas, disse o homem, até isso é uma utopia.

Ouvir alguém do quilate dele dizer isso lava a alma de uma jornalista que, como eu, insiste em ter time de futebol e votar nas eleições. Não só por isso, mas também pela análise sobre o papel de seu país, os Estados Unidos, no mundo pós 9/11 e a avaliação de que, apesar de cheio de informações à disposição, o público não consegue interpretá-las, a palestra dele foi uma das melhores do evento até agora.

Ok, ok, vou parar

Mas eu precisava fazer este último post sobre o último capítulo da novela. Esta narrativa do Te dou um dado? tá dgenial!

Para dar água na boca

Dos 12 anos que estou com o Márcio, 12 eu convivo com o Sérgio Lüdtke. Ex-editor de livros, editor-executivo do clicRBS e do hagah, o homem foi responsável por algumas das mais gostosas experiências gastronômicas que já tive.

Pai do Joaquim e marido da Cacá, minha querida editora na L&PM, ele agora anda cometendo gostosuras por escrito, como este post, em que descreve a delícia de se comer um bom pão com um bom azeite e um bom sal.

Com vocês, Sérgio Lüdtke e seu Cookies.

Alívio

A melhor coisa do último capítulo de Paraíso Tropical não foi nem a atuação do Wagner Moura e do Bruno Gagliasso na hora da revelação do crime. A melhor coisa do último capítulo foi o significado por trás dele.

O fato de uma novela do Gilberto Braga ter chegado ao fim quer dizer que durante pelo menos três novelas das 9 (um Agnaldo Silva cheio de personagens gritões e inverossímeis, uma Glória Peres sem comentários e um Manoel Carlos que anda escrevendo feito Glória Peres), estou LIVRE do mundo noveleiro.

E isso é bom demais. Melhor até do que novela boa do Gilberto Braga.

*

Aliás, o que é de bom esse Wagner Moura? Digamos que se eu tivesse visto Tropa de Elite no fim de semana, teria achado fantástica a atuação dele. Ainda mais se considerarmos a consistência de boas atuações dele nos divertidos Deus é Brasileiro e Saneamento Básico e no pesado Cidade Baixa.