O dia se espatifa: 2011

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Novos significados

Quando era adolescente,  não gostava de vestir de novo uma roupa que houvesse vestido numa ocasião desagradável – normalmente relacionada a algum namorico mal resolvido. Era como se alguma energia ruim tomasse conta daquela inocente peça de tecido e então a tornasse amaldiçoada, fadada a sempre atrair situações indesejadas. Eu devia ter uns 16 anos quando a minha mãe, essa sábia senhora que percebeu que eu abandonava roupas de que gostava tanto, me disse que não era assim que as coisas funcionavam. Que se algum dia uma peça de roupa tivesse me acompanhado num momento de azar, eu deveria vesti-la novamente justamente para reenergizá-la com algo melhor.  Desde então, nunca mais tive esse tipo de superstição. Até porque depois que eu mesma comecei a pagar pelas minhas peças de vestuário, deixar de usar alguma coisa por conta de uma bobagem dessas virou algo evidentemente indefensável.

Dia 20 de dezembro era um dia assim. Desde 20 de dezembro de 1995, quando soubemos que meu pai estava com um câncer de estômago avançadíssimo e sem qualquer esperança de cura, a data tomou contornos sombrios na minha história de vida. Nos últimos 15 dias 19 de dezembro, sentia, ao dormir, um aperto no estômago, fazendo com que eu voltasse a sentir um pouco daquela sensação de desamparo absoluto.

Hoje, porém, esse significado foi sobrepujado por outro. Em vez de desamparo, esperança. No lugar das lágrimas incontidas de tristeza, lágrimas silenciosas da mais pura alegria. Descobri que meu pai vai ter uma netinha. O bebê que está dentro da minha barriga é uma menina, e a descoberta disso justamente nesse dia veio, principalmente, para comprovar a tese da minha mãe: nada como expor um dia velho a novas energias para mudar o nosso olhar sobre ele.

Que venham todos os outros dias 20 de dezembro da minha vida.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Das alegrias – uma lista (Parte 1)

Muita gente diz que não se sabe o que é felicidade ou amor antes de se ter um filho. Sempre achei a observação meio deprimente, principalmente porque conheço muita gente feliz e cheia de amor que não teve filhos (porque não quis ou não conseguiu ter) e muita gente infeliz e solitária apesar (ou até por causa) dos filhos.

O bebê que estou esperando é motivo de uma das maiores alegrias da minha vida. Foi desejado, esperado, planejado e sonhado. Porém, principalmente porque não quero que o peso da minha felicidade (e da felicidade da minha família) fique sobre ombros tão pequenininhos que ainda estão em formação, decidi começar uma lista (que certamente não se encerrará neste post) para dividir comigo mesma, com meus poucos – e valorosos – leitores  e também com esta criança já tão querida, parte das tantas alegrias que acumulei nos 37 anos de vida sobre este planeta, antes mesmo da chegada dela.

Tenho certeza de que a lista seguirá crescendo – e certamente ganhará novos focos depois da maternidade. O que vem abaixo não está organizado nem por ordem de importância, nem por relevância. Vão desde imensas até minúsculas alegrias. Creio que posso chamá-la também de "grande lista de pequenas conquistas". Parte 1, claro.

  • Sou amiga do meu marido, da minha mãe e da minha irmã

  • Fui uma grande amiga do meu pai

  • Minha letra cursiva é muito bonita quando escrevo com calma

  • Assisti a mais filmes durante a infância e a adolescência do que muita gente que conheço

  • Minha mãe me ensinou a ler aos 3 anos com o Pé de Pilão de Mario Quintana

  • Sei a letra completa de todas as minhas músicas preferidas dos Beatles e do Chico Buarque

  • Aprendi inglês tirando de ouvido as letras das canções dos Beatles e vendo a filmes na TV com a legenda tapada por um papel com fita durex

  • Quando vou ao Rio de Janeiro, não me sinto culpada por não ir a nenhum ponto turístico

  • Ainda mantenho grandes e queridas amigas que ganhei na infância, na adolescência, na faculdade e na vida adulta

  • Traduzi três livros do Kurt Vonnegut

  • Entrevistei o Brizola antes dele ficar gagá

  • Entrevistei o Lula mais de uma vez (antes de ele ser presidente)

  • Posso dizer que sou amiga de jornalistas do peso do Sérgio Augusto, da Maria Lúcia Rangel e da Ana Maria Bahiana – e continuo sendo fã deles

  • Aprendi a fazer panquecas iguais às da minha mãe!

  • Quando fui a Paris, consegui me comunicar bem em francês

  • Um dia uma americana me perguntou de que parte dos EUA eu era porque não estava reconhecendo meu sotaque

  • Em 2007, passei numa seleção para uma vaga no YouTube/Google. Não aceitei porque não queria morar em São Paulo (a vaga para a qual comecei a seleção não seria em São Paulo)

  • Em 2003, tive coragem de admitir a mim mesma que não havia nascido para morar em São Paulo e que isso não era motivo de vergonha

  • Tenho prazer de conviver com meus colegas de trabalho e de fazer o que preciso fazer

  • Quando saio de férias, consigo me desligar do trabalho

  • Saber que sou substituível não me atormenta, mas, pelo contrário, me estimula a querer ser desejável

  • Aprendi que injustiças nos ajudam a crescer e melhorar

  • Consigo tocar nos pés com as pernas esticadas

  • Digito muito, muito rapidamente

  • Não consigo dormir sem ler ao menos uma página de um livro

  • Muita gente que indiquei a vagas de empregos se deram muito bem com as minhas indicações

  • Tive chefes ótimos, razoáveis, medíocres e abaixo da média. Aprendi com todos

  • Tenho ex-chefes que me tratam com carinho até hoje

  • Sou ex-chefe de pessoas especiais que me tratam com carinho até hoje

  • Acompanhei minha mãe no processo da cura de um câncer

  • Tive o prazer de estar à mesma mesa de pessoas como Carlos Lyra, Luis Fernando Verissimo e Fernando Morais. Eles certamente não sabem quem eu sou, mas e daí?

  • No colégio, era quase sempre uma das primeiras a ser escolhidas para os times das aulas de Educação Física

  • Um dia me disseram que quando criança eu devia ser igual à Mafalda

  • O poder alheio não me intimida

  • Uma eventual incapacidade minha de lidar com meu próprio poder – por menor que seja – me apavora

  • Plantei pelo menos uma árvore no meu jardim

  • Ainda não escrevi um livro, mas traduzi mais de 30

  • Já faz mais de 5 anos que eu mesma asso o peru do Natal da família

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O jovem avô que vou ter de ensinar ao meu bebê

Uma das pessoas que mais admirei na infância – e mais senti não ter conhecido – foi o meu avô materno, o "vô Fritz". Sempre olhei com uma certa inveja para os primos que tiveram o privilégio da sua convivência. Foi por meio deles - e dos meus pais, principalmente - que fiquei sabendo um tantão de alguém que foi tão marcante para quem o conheceu.

Infelizmente, vai ser assim também que o/a meu/minha filho/a vai conhecer o homem mais importante da minha vida até eu conhecer o Márcio. Seu Jurandir Antonio Zanon ficou pouco tempo conosco (48 anos no total, 22 como meu pai), mas deixou um legado que me acompanha até hoje.

Meu pai foi um homem interessado pelo mundo, por história, pelo comportamento humano. Foi o meu Google particular durante muito tempo. Foi quem me ensinou a ler, a gostar de cinema, a questionar o porquê de tudo, a buscar meu espaço sem invadir o espaço dos outros.

Sempre bem humorado, com um senso de humor ao mesmo tempo sofisticado e palhaço, deixou como maiores ensinamentos que não é preciso ser sisudo para ser sério e que a sinceridade e a honestidade são o melhor caminho para conseguirmos o que queremos. Mesmo que esse caminho por vezes acabe se mostrando mais longo.

Hoje, no dia em que ele completaria 64 anos - e que eu completo 19 semanas de gravidez -, minha tia Rita , a irmã caçula que ele via como uma espécie de filha mais velha, fez uma homenagem a ele no Facebook, postando uma música de que ele gostava muito. E cuja letra, percebi hoje, diz muito sobre o homem que ele foi.

Saudade, pai. Que pena que não estejas aqui neste momento tão feliz das nossas vidas.





quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Surreal? Imagina...

Então o Itaú me manda um e-mail me oferecendo a oportunidade de acertar uma dívida. Depois de conferir e ver que não era vírus e temendo ter esquecido de pagar alguma parcela do carro durante a greve dos Correios, ligo para o número indicado. Querem cobrar uma dívida de mais de 8 anos que não existe – e, se existisse, estaria prescrita.

Irritada, demando não receber mais ligações, sob o risco de entrar com um processo por danos morais contra o banco (ouço terror e pânico do outro lado) e, depois de ligar para o SAC, recebo a garantia de que não mais serei importunada.

Como se deu a narração disso no meu Twitter, com direito a diálogo com "o banco":


  • cassiazanon não existe NO MUNDO instituição bancária mais NOJENTA do que o @itau #semmais

  • cassiazanon
    então ligo pro @itau para pararem de me contatar sobre uma dívida que não tenho, e a moça me diz que vão me ligar a respeito... #oi?

  • itau30horas @cassiazanon Olá Cássia. Podemos te ajudar de alguma forma?

  • cassiazanon @itau30horas sim, não entrando mais em contato comigo. só isso. obrigada. (verificar atendimento sob protocolo 125255378).



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Atualização às 11h16 do dia seguinte (11/11/11):


  • itau30horas @cassiazanon Olá Cássia. Para que possamos ajudar você, por favor, informe via DM o seu CPF e telefone de contato com DDD.



Só pode ser sacanagem...

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Porque mudar é preciso

Estava começando a ter engulhos toda vez que abria este tão mal atualizado humilde blog e deparava com o layout ao lado. Mudei. Na ausência de talento como designer, apelei para a máxima segundo a qual menos é sempre mais. Sem mais, obrigada.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Bocaberteando lindamente

"Bocabertear" é um verbo criado e muito usado pelo meu querido amigo Ernesto Fagundes. E é um verbo perfeito para situações como a que a pessoa viveu na hora do almoço de hoje.

*

Almoço com o marido, em mesa encostada na janela de restaurante de shopping – com uma "bela" vista para o estacionamento. O marido da pessoa pergunta:

– Teu carro tá onde?

– Logo ali, atrás daquele Gol vermelho – responde a pessoa, apontando para o lado de fora da janela.

Então, depois do almoço, os dois resolvem tomar um café fora do restaurante antes de ir embora. Chegando ao estacionamento, a pessoa se apavora...

– Cadê meu carro?!?!?!?

Passam-se muitos – não poucos – segundos de um pânico incontido e cálculos rápidos de toda incomodação que a ausência do carro certamente vai provocar até que o susto dá lugar à vergonha e à percepção de que a pessoa estava procurando o Gol vermelho para encontrar o próprio carro logo atrás dele.

*

Bocaberteei ou não?

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Das crenças convenientes

Toda vez que vou viajar ou planejo alguma atividade ao ar livre e a previsão do tempo é de tempo bom, viro a maior defensora da precisão da meteorologia. Se a previsão é de chuva, acho que tudo não passa de uma bobagem.

Apesar de acreditar na Astrologia e me enxergar perfeitamente nos mapas astrais que já fiz, minha crença no horóscopo diário vai mais ou menos por esse caminho. Hoje, por exemplo, meu "novo trânsito astrológico" segundo o site Astral está tão relacionado com o momento que estou vivendo, que não ouso dizer que não tem nada a ver.

E tenho dito.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Da relação entre o volume de posts e a movimentação da vida

Desde que criei meu primeiro blog em dezembro de 2003, passando pela adoção do Twitter e do Facebook, venho tentando compreender a relação existente - se é que existe - entre o volume de posts que publico/cometo e a movimentação da minha vida. A conclusão é que não consigo chegar a conclusão sobre o assunto.

Houve períodos de muito, muito trabalho em que eu postei ensandecidamente no twitter e no blog, como se quanto maior fosse a minha produtividade profissional, mais intensa se tornava a minha capacidade de escrever rapidamente sobre qualquer assunto. (Ah, sim, este tanto é fácil de confirmar: nunca um post me toma mais do que 15 minutos, por mais longo que seja. Faço um blog pessoal e sem pretensão, não jornalismo.)

Em contrapartida, há momentos da vida como os das últimas cinco semanas em que muita, muita, muita coisa acontece, e eu fico muda. Mas não é o excesso de coisas que me paralisa ou me impede de me manifestar no blog ou nas redes sociais - eu não acredito que a troca de informações em twitter e facebook seja coisa de desocupados -, é um je ne sais quoi que, imaginava, a tal relação iria explicar.

O fato hoje é que me dei conta de que faz mais de um mês e meio que não escrevo aqui. Agosto passou incólume - e, acreditem, poucos meses da minha vida foram tão relevantes para todos os aspectos da minha vida quanto o mês de agosto de 2011. Não que vá fazer alguma diferença na vida dos meus queridos 17 leitores, mas prometo voltar logo.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Pela democratização do elitismo

A bandeira não é minha, mas do mestre e melhor texto vivo do jornalismo brasileiro, Sérgio Augusto - ok, concedo que talvez seja um dos melhores, mas como é o que eu tenho a honra de poder chamar de amigo, é o melhor. Ponto. A ideia do título deste post surge na última frase do último ensaio do livro Lado B, coletânea de artigos das revistas Bravo! e Bundas publicado em 2001, que acabei de reler há alguns dias: "Precisamos democratizar o elitismo".

Na apresentação do livro, outro mago do texto em português brasileiro - Luis Fernando Verissimo - dá uma medida de quem é o Sérgio: "Para poupar quem me pariu, não vou chamá-lo de ensaísta, nem dizer que é raro ver alguém tão erudito (' "Erudito", porra?!' Sérgio Augusto) ser tão divertido, ou alguém divertido ser tão profundo, ou alguém profundo ser tão comunicativo ('Gozação, não!' S.A.)". Perfeita descrição.

Leitora de livros linear que sou - preferindo deixar a hipertextualidade para os meios digitais -, comecei a (re)leitura pelo LFV e terminei pela frase supracitada. E os dois textos fecharam um círculo perfeito, gerando um insight muito mais forte do que qualquer outro que eu poderia ter tido (e que não me lembro de ter tido) em 2002. Estamos emburrecendo? Pior: estamos nos esforçando para emburrecer?

A cada texto do livro do Sérgio eu me perguntava como eles teriam sido transformados para ganhar as páginas dos jornais de maior circulação do país se fosse seguida a lógica corrente de "explicar tudo" para o leitor. Certamente, não teriam causado os pequenos desconfortos que causam nas almas ignorantes como eu a necessidade de ir em busca de mais informações sobre os assuntos tratados ou de procurar a tradução para uma expressão consagrada em francês, inglês ou latim que se ele usou ali certamente eu preciso saber o que quer dizer. Porque a regra de hoje é cada vez mais a de mastigar tudo para o cristão não ter trabalho.

E agora eu rezo para que o Sérgio jamais pouse seus olhos nessas mal digitadas (e nem preciso rezar muito, pois leitor de blogs deste tipo sei que ele não é), porque a partir de agora faço uso do meu exemplo preferido para o caminho que corremos o risco de estar trilhando e para o qual podemos estar embarcando nossos herdeiros. E o exemplo não é um ensaio acadêmico com várias citações e referências culturais e históricas, nem um filme cabeça de um obscuro (porém genial) diretor de cinema escandinavo.

Num final de semana de abril de 2008, aluguei um filme seguindo meio desconfiada uma dica do Edu, ilustrador da Zero Hora. Nasceu ali meu fascínio pelo Idiocracy e o meu receio de que se a gente seguir muito ao pé da letra a orientação do título do livro-referência na minha área de trabalho - Não me faça pensar, do Steve Krug - possa acabar colaborando além da conta na estupidificação da humanidade.

Não, eu não vou contar o filme. E não vou resenhar o livro. Recomendo ambos fortemente. Depois a gente se junta e discute, que tal? Vai daqui a minha pequena contribuição para a democratização do penso.





sexta-feira, 1 de julho de 2011

Um retrato da minha irrelevância

Deparei esta semana com o site wordle.net. Por curiosidade,  submeti este humilde à sua análise, e ele me devolveu um instantâneo da irrelevância que grassa por aqui.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Dos posicionamentos firmes sobre assuntos polêmicos

Sabe qual é a minha posição sobre a transposição do Rio São Francisco? Sobre a descriminalização da maconha? Sobre a hidrelétrica de Belo Monte? Pois é, eu também não sei. Não que eu não tenha uma posição sobre todas essas coisas (e muitas outras), é só que eu ainda não tive tempo de me aprofundar o bastante em nenhuma dessas questões para formar a minha opinião. Fico cada vez mais espantada sobre como as pessoas têm posições firmes sobre questões a respeito das quais não conseguem responder uma pergunta sequer com consistência.

A ideia para este post nasceu ontem, assistindo no Jornal Nacional à matéria sobre os "documentos ultrassecretos". Vendo os personagens envolvidos e considerando o pouco que me prestei a ler sobre o assunto, concluí: tudo bem que é difícil cogitar de estar ao lado de Fernando Collor e José Sarney (não que Ideli Salvatti e Eduardo Mogadon Suplicy sejam contrapontos confortáveis), mas será que dá para discordar completamente  da não abertura de certos documentos? Sem saber quais são efetivamente os documentos e o que a abertura deles poderia provocar, eu não sei. Até agora só tomei conhecimento de opiniões, nãode  fatos (e a tal matéria do JN não foi especialmente esclarecedora).

Sinto um cansaço imenso toda vez que leio, ouço ou vejo (mais um) comentário burramente generalizador sobre políticos (todos corruptos) e professores (todos cidadãos abnegados). Sem contar os spams com powerpoints trazendo dados quase nunca conferidos sobre temas com que eu preciso concordar, senão... Quem nunca conheceu um político honesto ou um professor  mau-caráter, que ouse contestar a minha irritação.

Antes que me "acusem" de desinformada, eu mesma faço uma confissão. Eu não li sobre o assunto não por falta de acesso à informação ou por falta de tempo. Foi falta de interesse mesmo. Portanto, podem me chamar de alienada. Neste caso, mea culpa, é o que estou sendo. O post é sobre outra coisa, completamente diferente. Meu querido ex-chefe Marco Migliavacca sempre me disse que a gente não precisa ter opinião sobre tudo. Eu concordo em parte com ele. Acho importante, sim, ter posição sobre as coisas. Tenho pavor de neutralidade. Mas a gente podia deixar combinado que só se tem opinião sobre aquilo que se conhece. Que tal?

terça-feira, 14 de junho de 2011

As buscas voltaram!

Desde outubro do ano passado não faço posts "momento oráculo" por problemas na ferramenta de estatísticas. Eis que desde a semana passada estou conseguindo novamente ver que tipo de busca traz viventes desavisados a este tão parcamente atualizado blog. E então vão daqui as minhas respostas e ou observações às buscas dos últimos três meses, para não deixar os pobres ainda mais perdidos.

cassia zanon - sim! eu mesminha!
o dia se espatifa - onde mais?
ninfetas transando videos gratis - pelamordedeus! como é que tu chegou aqui, criatura? e vê lá, que eu chamo a Olivia Benson
chulé sapatilha - tava demorando... impressionante. e eu nem tenho chulé.
frases sobre lixo - #oi? deve ser para trabalho de colégio, né?
penelope cruz denise fraga - sim, sim. separadas no nascimento. eu sempre soube.
cássia zanon - sim, é com acento
chulé em sapatilha - já tentou talco?
frases de lixo - tô começando a achar que é algo contra o que eu escrevo.
chule e sapatilha - pelo jeito combinam superbem, considerando o quanto se busca isso no google.
tá ligada - infelizmente, tô. e é uma das expressões que eu mais abomino nessa vida. tá ligado?
frases implicantes - ah, isso é o que mais tem...
chule sapatilha - been there, não?
cássia zanoni - sobrou um "i"
receita de linguado grelhado do gambrinus - bá, não sei fazer igual. mas é bom, né?
frases sobre implicância - por que alguém procura por isso, gente?
depoimentos para amigos implicantes - se tu vai copiar, vai gerar mais implicância, já parou pra pensar nisso? pensa numa sozinho, criatura!
como tirar chulé de sapatilha - ADORO perguntas do tipo "bola de cristal"
samantha geimer história - bá, daí tu te deu bem. porque eu reproduzi aqui um texto maravilhoso do Sérgio Augusto sobre o que ela fez com o Polanski
bruna nervis twitter - o secreto dela não adianta. ninguém sabe qual é...
tradução de musicas que se refere a alienados - hahahahahaha
como transar o çintos - eu tava jurando que era alguma tara, mas com a superajuda da minha querida @lizicordeiro descobri que a intenção era descobrir "como trançar o cinto". confesso que não çei!
nonsense bial - nonsense é pouco. eu ando pensando em coisas muito mais ofensivas sobre ele, para ser sincera #pavordobbb
net porto alegre fatura - chegou errada, é?
baixar "alain de botton" a arquitetura da felicidade - pô, compra o livro. é baratinho. e ainda ajuda a nossa indústria editorial a se manter funcionando.
queridice dicionario - por aqui? difícil...
uso e irrelevâncias no orkut - posso ajudar com a parte das irrelevâncias. serve?
jogo ironia atropelador ciclista - muito tri, né? o link para ele tá aqui.
em 2009 a quem pertencia a gvt - nem ideia. descobriu?
frases implicantes para msn - qual a diferença entre uma frase para msn e outra não para msn?
tirarchule de sapatilha - na boa, joga fora a sapatilha, tchê!
"falta de etiqueta no trabalho" - é uma indireta?
estupro "perdão da vítima" 2010 - meu deus, por que a pessoa chega aqui procurando por isso? nem eu sei
como enxergamos a nós mesmos - tu eu não sei, eu me enxergo muito melhor do que deveria ;-)
romance biografico - tipo assim, dá pra ser mais específico? ou é cola para trabalho de colégio?
incoerencia - total e absoluta. sempre. ou quase sempre.
balaio tem acento?? - ONDE TERIA??????? baláio? balaío? #pordeus
cartão de aniversário para a amiga "perua" - hahahahahahahaha. coitada da amiga
a voz do brasil ironia - parece que não se trabalha com isso por lá.
tumblr mais divertidos e ironicos - não sei julgar.
matÉria do jornal nacional ensinando como tirar chulÉ de sapatilha - tá brincando que teve isso???
a melhor resolução de todas - a minha foi esta aqui
amizade de aluguel - olha, dependendo da oferta, negocio.
depoimentos prontos saudades da minha implicante - #oi? me dá um pouco do que tu bebeu?
terapeutas naturistas porto alegre hagah - não seria "naturais"?
capitulei - indeed. eu também.
alienação pedro bial - parece que ele adotou como nome do meio
como tirar chulé de sapatilhas - e-u-n-ã-o-s-e-i! caramba!
o gugol musica - ai, por que eu tenho medo de pensar que alguém ache que realmente se escreve assim?
classificados odia 25 de setembro de 2008 - nossa... o que é que estava a venda nesse dia?
pra que serve a hora do brasil - para chatear quem volta para casa de carro e sem mp3player entre as 19h e 20h, claro.

terça-feira, 31 de maio de 2011

tratado sobre as risadas online #prontofalei

conversa de fim de noite via GTalk...

eu: que tipo de pessoa "ri" kkkkkkkkkkk? não sei o que é pior: kkkkkkkkkk, rs rs ou ahuhahuhahuhah


amigo: nao gosto tbem, mas mta gente ri assim


eu: sim. inclusive gente que eu curto e respeito
acho que o uahauhahuhahuah é o pior...


amigo: hrhrhrhrhrhr é o melhor desde o ICQ e nada superou


eu: e o rs rs é coisa de gente reprimida.
verdade


amigo: risada leve. mas qdo é gargalhada é HAHAHAHA e pronto.
PRA Q INVENTAR??


eu: pois é
e o hahahahah é uma leve gargalhada
sem lagriminha
o bom do hrhrhrhrhrhr é que a maioria das risadas é assim, né?
e o hehehehe é risada pra não perder amigo


amigo: exato, adoro
hahahha
sim


eu: hehehe
:-p
tô quase transformando esta nossa conversa em post
sem citar nomes, claro
dava uma tese de linguística


amigo: faz um tratado sobre as risadas com o #prontofalei


eu: e vou me incomodar com meus amigos que riem kkkkkkkk e ahuahuahuahua...
e os rs, rs, claro
azar...
postei

De como a NET estragou a consumidora que há em mim

Sabe aquelas pessoas que são "estragadas" para relacionamentos por uma desilusão amorosa? Não, não é o meu caso. Comigo, isto aconteceu com a NET.

Desde o final de abril, estou fazendo um curso de pós-graduação na PUC. Símbolo da minha rendição ao mundo corporativo: Gestão Estratégica e Inteligência Competitiva. Mas não é sobre isto que vamos discorrer neste momento.

No começo do mês, fui pagar a mensalidade. Quando me matriculei, soube que a partir da segunda parcela teria desconto de 10%  por ser ex-aluna da universidade. Duas semanas antes da data de vencimento, comecei a me informar sobre o que deveria ser feito para obter tal desconto e fiz tudo direitinho: pedi cartão de diplomado, apresentei cartão no setor financeiro, levei papel na secretaria do curso. É aí, afinal, que começa a história.

Sorridente e confiante de ter feito tudo certo, chego à secretaria.

– Oi! Tudo bem? Aqui está o papel para ter o desconto de ex-aluna na mensalidade.

O moço da secretaria examina os papéis e começa:

– Está tudo certo, mas não dá mais tempo de dar o desconto este mês...

– Não. Tu não está entendendo. Eu fiz tudo direitinho, como mandaram. O desconto vai sair este mês, sim.

– Pois é, mas não temos mais tempo de enviar ao financeiro...

– Olha só, na verdade vai ter que dar tempo. Porque eu fiz exatamente como me mandaram. Não é justo que eu perca o desconto sendo que fiz exatamente o que me mandaram.

O moço dá um sorriso benevolente – que me deixa um pouco irritada – e recomeça:

– Sim, entendo. Só que...

Orgulhosa por não ter alterado a voz e me mantido educada, interrompo mais uma vez.

– Ai, por favor, não vamos entrar numa discussão desnecessária. Eu sou muito chata, principalmente quando faço as coisas direitinho. A NET sabe muito bem disso. Então, eu não pretendo sair daqui antes de garantir o meu desconto.

Mais um sorriso benevolente e gentil – que me deixa um pouco mais irritada:

– Então, moça, é que o desconto deste mês não vai poder ser dado agora, mas...

(Sinto o rosto corar de vergonha antecipada)

– Ai... tu vai me dizer que o desconto vem no próximo boleto?

– Sim.

– Mas por que tu não me disse antes?

– É que tu não me deixou falar...

...

Fazia muito tempo que eu não ficava com tanta vontade de entrar num buraco e sumir. A conclusão a que cheguei é que a NET – sim, sempre ela –, com seus contratos cheios de entrelinhas e "mirabolâncias" me deixou com um pé atrás em relação a qualquer relação de consumo a que sou submetida. Daí fico sujeita a cometer injustiças como esta.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Do que vemos em nós mesmos e de como os outros nos veem

Outro dia, depois do almoço na firma, contei como na segunda-série do então primeiro grau - a mesma em que eu sonhava ser igual à Ana Maria deste outro post -, a turma participou da gincana do colégio com um desfile que representava a história da Alice no País das Maravilhas (don't ask). Relatei a decepção que tive quando eu, a CDF, queridinha da professora, líder da turma, fui escolhida sem qualquer cerimônia para ser, é claro... a Rainha de Copas.

Como assim? Eu ainda nem era gordinha! Que tristeza. Qual menina de oito anos não gostaria de ser Alice? Foi o meu primeiro contato com a distância que existe entre como nos percebemos e a percepção alheia.

- Bá, mistura a Rainha de Copas com a Mafalda, que fica a Cássia perfeita - disse a minha querida colega/amiga Bruna Nervis depois de uma pequena pausa pós-relato.

Que medo de mim mesma depois dessa afirmação.

Se bem que a Alice é uma mocoronga, né?

Post Lavoisier sobre comportamento em bufês

Renovei o visual do blog e decidi que precisava postar algo. Ocorre, porém, que o tempo urge, e o que me inspirou para postar hoje foi o gentil senhor que, ao se servir na minha frente no bufê, não apenas levou vários minutos para deixar a fila andar como o fez justamente porque estava catando os raviólis que continham queijo, desse modo varrendo a parte de cima de metade da porção que deveria servir várias criaturas. Achei, portanto, desnecessário reescrever o que já havia escrito em 25 de abril de 2008 neste mesmo.
Diga-me como te portas num bufê…

sábado, 21 de maio de 2011

Ah, o telemarketing ativo...

Sábado, 12h20.

- Bom dia, por favor a senhora Cássia Banon?

- Cássia Zanon, é ela.

- Senhora Cássia, meu nome é Fulana do banco Xalalá, e o motivo do meu contato é que a senhora foi selecionada para obter a vantagem de um exclusivo cartão de crédito MasterCard...

- Obrigada, querida, mas eu não estou interessada.

- Por que, senhora Cássia?

- Porque eu já tenho dois cartões de crédito.

- Mas, senhora Cássia, a senhora não vê que com este cartão a senhora vai estar abrindo mais uma linha de crédito.

- Sim, querida, e também mais uma linha de endividamento.

- Mas, senhora Cássia...

- Eu não quero MESMO.

- Ah, então vejo que neste momento talvez a senhora não considere a proposta vantajosa para a sua realidade.

- ...

- O banco Xalalá agradece, tenha uma boa tarde.

Eu fico com pena, mas um dia ainda perco a educação.

domingo, 15 de maio de 2011

Sabe o que é? É que tem uma cachorrinha nova em casa

Supondo que estivessem sendo gravados os sons de casa, eis como seria a transcrição do que tem ocorrido aqui desde a última quarta-feira à noite, quando chegou a mais nova moradora: a nossa vira-latinha  - ou Basset Frisé da Bretanha, raça que inventamos para ela -, a Farofa...

- Não, Farofa, aí, não!

- Muito beeeeeeem!

- Aqui não, Farofa, aqui não!

- Me dá a meia, Farofa. Pega o Nemo.

- Bubi! Explica pra Farofa como funciona.

- Não, Farofa, esta comida é do Bubi!

- Não, Farofa!

- Ai, olha que fofa!

- Muito beeeeeem!

- Farofa, tu comeu o nosso café da manhã???

- Cuidado, Farofa!

- Em cima da mesa, não, Farofa!

- Deixa o Bubi um pouquinho, Farofa!

- Devolve a meia, Farofa!

- Muito beeeeem!

- Tá, Farofa, agora vamos dormir. Pode levar o Nemo.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Tá ligada que Machu Picchu é uma coisa mais cultural, né?

Diálogo ouvido ontem à tarde - aos brados -  na fila do caixa de um estabelecimento da zona sul de Porto Alegre.

(É favor ler o diálogo com um foooorte sotaque portoalegreeense, daqueles com as palavras beeeem esticaaadas, saaabe?)

Perua 1 visivelmente com inveja da amiga com menos sotaque e não perua, dirigindo-se à amiga Perua 2:

- Guria, diz pra ela das tuas férias.

- Ai, guria, foi a viagem dos sonhos. Seis dias em Miami, dez no cruzeiro e mais quatro dias em Nova Iorque.

- E quanto tu pagou?

- Ai, acho que deu uns seis mil dólares.

Perua 1 se vira para a Nã0-perua:

- Tá vendo? Eu te disse que tu tá pagando muito caro essa tua viagem.

- Mas Machu Picchu é a viagem dos meus sonhos - reage a não-perua.

A Perua 2 adota um tom de voz de quem faz um alerta importante:

- Ah, tá. Mas tu tá ligada que Machu Picchu é uma coisa assim mais cultural, né?  A fulaninha foi pra lá e voltou arrasada, porque só conseguiu fazer compras no free shop.

Neste momento, eu finalmente resolvi sair de perto. Será que isso explica a gastroenterite que me vitimou ontem?

terça-feira, 15 de março de 2011

Quem precisa d'A Voz do Brasil?

Da série post que devia ser tweet, mas ficou muito comprido...

E então que hoje, enquanto uma locutora língua presa lia notícias emocionantes e megarrelevantes do Judiciário n'A Voz do Brasil, centenas de motoristas ficavam praticamente parados na Avenida Beira-Rio, em Porto Alegre, porque as emissoras de rádio não podem prestar seus serviços por conta de uma lei esdrúxula!

Pavor d'A Voz do Brasil!

domingo, 13 de março de 2011

Bial, quem diria, é o rei dos alienados

Lembro de usar muito o termo "alienado" em tom acusatório em discussões que tinha na adolescência, principalmente as que versavam sobre política ou bem-estar social de um modo geral. Olhando hoje a minha timeline do Twitter - em que ao mesmo tempo que gente se apavora com a explosão de um reator nuclear transmitida em tempo real por todos os meios de comunicação disponíveis outros tecem comentários a mim absolutamente incompreensíveis sobre o BBB 11 - percebo que a alienação ganhou uma vitrine deprimente e nonsense.

Ao fim e ao cabo, o que eu me pergunto é: o que passa pela cabeça do (um dia grande repórter que cobriu a queda do muro de Berlim in loco) Pedro Bial numa hora dessas? E mais: aquele estúdio um tsunami não pega, né?

quinta-feira, 3 de março de 2011

Ótima ironia em game sobre o atropelador

O meu colega (e macmaníaco imparcial) Rodrigo Schmitt de Andrade deu a dica deste game bacana sobre o atropelamento de ciclistas ocorrido em Porto Alegre para chamar a atenção para uma manifestação virtual de repúdio ao que aconteceu. Adoro ironia.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Hoje é dia de Oscar!

E dia de Oscar é dia de perder followers no Twitter, porque baixa o meu espírito de porco, e eu resolvo manifestar todos os pitacos que muito pouca gente deve estar interessada em conhecer. Considerando que este ano eu não consegui ver quase nenhum dos filmes que concorrem, minha "cobertura online" vai ser, hm, como dizer, mais peculiar ainda. Você não pode deixar de perder! A partir da hora em que eu começar a assistir, no widget aí embaixo (esperando a tua participação, evidentemente).

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Como faz para não lembrar?

Não há um dia que se passe sem que eu pense no meu pai, e nas coisas que ele me ensinou e nas coisas que eu gostaria que ele visse acontecendo comigo. Ocorre que não há também uma semana que se passe sem que eu cite a minha Vó Heloísa, mãe dele, em algum momento que normalmente arrancaria dela alguma de suas frases espirituosas e observações mordazes.

Eu não preciso de datas para pensar nos dois, porque ambos sempre estiveram e sempre estarão presentes na minha vida. Então, será que dava para pelo menos eu deixar de lembrar que três dias depois do meu aniversário de 22 anos ele nos deixou, e ela se despediu dois dias depois de eu completar 36?

Bendita saudade, que até para de doer, mas não diminui nunca.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Do Foursquare e da minha incoerência coerente

Quando entrei para o maravilhoso mundo das discussões políticas, eu tinha um posicionamento muito claro. Eu era de esquerda. E prezava pela coerência. Aos 14, 15 anos, chamar alguém de "incoerente" tinha como objetivo o mesmo tipo de ataque que chamá-lo de "infantil". Em retrospecto, percebo que eu nem era tão de esquerda assim. Só era antidireita - o que sigo sendo até hoje, explicando meu voto no Serra e não no Lula em 2002 e na Dilma em 2010 (interprete como quiser).
Vista daqui, aquela tal "coerência" de que tanto me orgulhei até 1994 (quando briguei feio com meu pai por votar no FHC mesmo ELE ESTANDO ALIADO AO PFL!!!!), na verdade, beirava a estupidez. E ao dizer que beirava, estou sendo generosa comigo mesma. Porque fincar pé numa ideia mesmo depois de ela ter sido provada equivocada pela vida apenas para não dizer "eu estava errada" é de uma burrice extrema.
A minha mais recente - e divertida - atitude incoerente foi ter abraçado animadamente o Foursquare, que eu já havia refutado peremptoriamente em outras ocasiões, criticando o excesso de "exposição" das pessoas. A versão mais forte para a mudança de opinião deve ser o fato de que meu novo celular 3G facilitou o uso da coisica. E eu tô me divertindo horrores podendo listar os lugares bacanas a que vou e para dividir impressões e dicas com os amigos reais e virtuais. Foi uma mudança de atitude rápida e intensa. Em menos de um mês, ganhei quatro badges.

Acredito muito nas minhas crenças. O suficiente para poder trocá-las quando considerar a troca coerente.


Este post foi inspirado pelo Alessandro Dreyer e pela Barbara Nickel que bem flagrou o meu recuo. Mas deixo uma ressalva: sigo achando um absurdo fazer check-in em endereços particulares, da própria casa ou da casa de amigos. Tudo na vida tem limites.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Quem eu quis ser um dia (mas logo desisti)

Durante os primeiros dias do ano letivo da segunda série do então primário, eu tive um ídolo. Era a Ana Maria, colega que sentava ao meu lado na sala de aula. Começava pelo nome. Ana Maria era um nome assim, básico, minimalista, algo que, mesmo inconscientemente, eu já achava muito chique. Os longos cabelos crespos dela estavam sempre perfeitamente bem postos, sem um fio fora do lugar, com cachos definidos e de um castanho claro brilhante. Tinha também o tom de voz da Ana Maria, sempre suave, sempre monocórdico - um luxo, acreditava eu, cria de família mezzo italiana, mezzo alemã.

Nas aulas de educação artística, a Ana Maria tinha um jeito impressionante de organizar o material em cima da carteira (era São Paulo, onde a classe gaúcha se chamava carteira, e a sala de aula, classe). Cada lápis de cor que escolhia usar era cuidadosamente retirado da caixa e, antes de ser substituído por outro, meticulosamente devolvido ao lugar de origem. Todos sempre perfeitamente apontados. Sempre arrumados na ordem em que vinham de fábrica.

Nos cadernos, cada linha que era pulada ganhava um desenhinho diferente (de uma flor, um coração, uma joaninha...). Sempre feito com o cuidado e a paciência relatados acima. E cada frase que ganhava um ponto final recebia também uma daquelas alisadinhas do papel que todos os fãs de papelaria costumamos dar nas primeiras palavras que imprimimos numa folha nova. Só que ela fazia isso o tempo todo. Além de tudo, a Ana Maria não caminhava, mas flutuava. Na educação física, fazia todas as atividades com absoluta indiferença. E não transpirava. Nem ficava ofegante.

Desencavei esse monte de informações dos meus arquivos mortos mentais hoje depois de ver entrar no ônibus em que eu estava uma moça com um olhar perdido, distante e blasé - igualzinho àquele que eu tanto admirei na Ana Maria naqueles primeiros dias de aula de 1982. Quase vinte e nove anos depois, passei a tarde tentando desvendar o porquê daquele fascínio. Não consegui. Só consegui lembrar de todos os detalhes sobre ela que tentei imitar: os cabelos bem ajeitados (que despenteavam à primeira brisa), os gestos delicados (que faziam com que eu demorasse demais para fazer tudo, e meus pensamentos acabavam sempre atropelando as minhas mãos), a voz baixa e monocórdica (quem me conhece deve imaginar a tortura que foi, ainda mais aos oito anos), os lápis de cor arrumados durante o desenho e não apenas depois (o que fazer com a criatividade que insistia em ser mais veloz do que a habilidade para ordenar as cores na caixa?), o caminhar flutuante (faz-me rir).

Não sei o que aconteceu com a Ana Maria. No ano seguinte, eu me mudei para Sorocaba e não faço ideia de qual era o sobrenome dela (sem chance de encontrá-la no Google ou no Facebook, pois). Lembro que era sempre dela uma das notas mais altas da turma (junto com a minha, que só deixaria de ser CDF absoluta alguns anos depois). Lembro também de ela estar sempre sentada na hora do recreio, com o olhar perdido no infinito, etérea (embora então evidentemente eu sequer soubesse da existência do termo "etérea"). E lembro que, entre uma brincadeira e outra, suada, com os cabelos desgrenhados e as bochechas vermelhas, eu olhava de longe para ela e sentia um pouquinho de inveja daquele ar de princesa que eu nunca consegui imitar por mais de três minutos seguidos.