O dia se espatifa: janeiro 2010

sábado, 23 de janeiro de 2010

Eu não quero ter razão

Dez anos de terapia me deram um alarme interno que dispara toda vez que estou exagerando. Em qualquer coisa. Às vezes o alarme custa mais a disparar e, quando dispara, o estrago está grande demais, e o caminho de volta ao equilíbrio - ou o mais perto dele - é um pouco mais longo e mais trabalhoso.



Nos últimos dias, tenho sentido crescer a minha irritação profunda em relação a quem se leva a sério demais - a meu ver, um dos piores defeitos de qualquer ser humano. E o que mais me assusta neste caso é que essa minha irritação, de maneira contraditória, demonstra justamente que estou - justo eu - me levando mais a sério do que gostaria (ou deveria).



Por sorte - embora também acredite que nada é por acaso -, vi hoje uma entrevista que o Geneton Moraes Neto fez com o Ferreira Gullar para a Globonews. E ao relembrar o sufoco que passou no Chile durante o golpe contra Salvador Allende, o poeta e escritor - que considero uma das pessoas mais fascinantes e lúcidas do país hoje - relembrou uma frase dele que fez o alarme mencionado ali em cima disparar e interrompeu o processo de exagero antes de ele ganhar alguma força: "Eu não quero ter razão, quero ser feliz".



É isso. Obrigada, Gullar.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Fim de semana em Porto Alegre

O tempo está lindo, e até dá vontade de ir para a praia. Mas a perspectiva da cidade vazia, com dias lindos, cinemas e restaurantes à disposição e longe de estarem superlotados tornam a beira da piscina muito mais atraente do que a beira do mar - ainda mais considerando o quase eterno tom achocolatado do nosso litoral.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Crise de idade

Eu tô avisando há horas. Sabia que isso ia acabar acontecendo. E aconteceu. Semana passada, descobri que estou trabalhando com um ser humano nascido em 1990. 1990! No dia seguinte, um vizinho de mais ou menos 15 anos tenta me convencer a entrar na piscina do condomínio:



- Entra, tia! A água está ótima.



Pior foi ficar aguentando a gozação do Márcio.



É oficial: estou em crise de idade.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Reciclando promessas

Hoje me dei conta de que tenho blog há mais de seis anos. Caramba! Olhando nos arquivos, encontrei uma promessa feita em 15 de janeiro de 2005. Ainda não foi cumprida, mas mantém a validade...





Juro



Eu ainda vou escrever um livro de etiqueta para como as pessoas precisam se comportar nas situações pobres do dia a dia:




  • no elevador

  • no ônibus

  • na fila do banco

  • na sinaleira pedindo

  • na sinaleira distribuindo

  • nos corredores do súper

  • no balcão da padaria



A esta altura todo mundo parece saber diferenciar um traje gala de um alto esporte, mas não sabe as mínimas regras de convivência.




segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Do irritante espanto injustificado

Na doce ilusão de que algum dos meus poucos porém queridos leitores (vocês ainda estão aí, né?) tenha chegado aqui antes de chegar no mestre dos mestres, reproduzo a excelente crônica do Luis Fernando Verissimo (perdão pela redundância) publicada na Zero Hora de hoje, que poupou a mim o trabalho de descrever as mesmas opiniões e a vocês de lerem um texto inferior sobre o mesmo assunto :-)



Como se fosse a primeira vez



Chove desde que o mundo é mundo, mas a chuva sempre nos pega desprevenidos. Não falo na chuva catastrófica como a que tem nos flagelado, mas na chuva comum. Na chuva que deveria fazer parte das expectativas normais de qualquer um que não vive num deserto. Que não deveria exigir qualquer alteração no seu cotidiano fora a necessidade de usar guarda-chuva e o cuidado de evitar goteiras e poças. E, no entanto, todas as vezes que chove nossas vidas são transtornadas como se fosse a primeira vez. Meu Deus, o que é isso? Água caindo do céu?! Com chuva, todo mundo se confunde, como se não houvesse precedentes. Com chuva, o caos do trânsito vira um pavor, embora só seja o caos de sempre com água em cima.



O descaso que causa as tragédias quando a chuva é catastrófica é um corolário dessa surpresa sempre repetida. A imprevidência dos que constroem em áreas de risco ou a negligência dos que permitem a construção em áreas de risco vêm da mesma recusa de ver o óbvio. A chuva é uma obviedade, não é uma novidade. A chuva anômala, catastrófica, também, pois temos uma longa história de tragédias como as destes dias. Mas a reação é sempre de incredulidade, nunca se reconhece o óbvio.



O problema do Brasil não é que as coisas não tenham precedentes. Há precedentes para tudo o que nos aflige. O problema é que os precedentes não nos ensinam nada. Assim, continuaremos reclamando que os esgotos pluviais não dão conta das grandes chuvaradas e precisam ser refeitos, até a inundação regredir e não se falar mais nisso. Continuaremos protestando contra construções em áreas perigosas até os deslizamentos pararem e o tempo melhorar, e esquecermos. E cada tragédia, como cada dia de chuva, será sempre como se fosse a primeira vez.



Reparação



Alguém com tempo e curiosidade suficientes poderia calcular de quanto seria o montante se cada família de vítimas da imprevidência e da negligência dos governos – do esgoto não refeito, da encosta não adequadamente escorada, da estrada não duplicada ou não construída – responsabilizasse judicialmente Estados e União e exigisse reparação. Não precisaria nem ser as vítimas de todos os tempos, só de um ano bastaria. O custo seria maior do que o necessário para fazer as obras.



Me dou o ousado direito apenas de acrescentar um ponto. No caso de terrenos invadidos, creio que seria importante responsabilizar judicialmente também os cidadãos que constroem em áreas proibidas - e não apenas os governos que não conseguiram expulsá-los de tais áreas. Assim como multar o motorista ou pedestre que joga lixo na rua - e não apenas protestar o governo que não mantém os bueiros e os esgotos pluviais em ordem. Porque descumprir a lei e faltar com a civilidade e depois simplesmente culpar o governo pela "falta de fiscalização" ou "omissão" me parece meio século 20 demais - pra não dizer coisa pior.