Meus amigos médicos e meus médicos amigos que me perdoem, mas os melhores médicos que vi e vejo atuar na minha vida não precisaram ou precisam de exames sofisticados para identificar (ou ao menos sinalizar) problemas, estimular a prevenção ou tratar ou tranquilizar pacientes. Os médicos que não olham, não tocam e não ouvem seus pacientes devem mesmo se ressentir da falta de infraestrutura de exames e tratamentos complexos, mas não é óbvio para todo mundo o que a maioria das pessoas que vive nos grotões sem médicos do país precisa é de alguém que tenha o conhecimento e a sensibilidade para identificar a necessidade de um atendimento mais especializado? Daí, sim, pode gritar à vontade contra infraestrutura. Mas, primeiro, que tal ouvir, ver e sentir os pacientes?
Eu não tenho dúvidas de que num lugar em que não há NENHUMA assistência médica, um "doutor" recém formado com foco nas pessoas é infinitamente melhor do que nada. Nem que seja para gritar. Não fosse assim, os Médicos Sem Fronteiras não teriam razão de ser. A discussão toda está muito na exceção. Não sei quase nada de prática clínica, mas minha experiência como hipocondríaca me faz duvidar que todo paciente precise realizar exames clínicos ou radiológicos para ser diagnosticado.
Enquanto olharmos para o problema do interiorzão do nosso país com nosso olhar urbano, vai ser difícil prescindir de médicos cubanos...
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Pesquisei o juramento de Hipócrates e achei o verbete na Wikipedia. Se está certo o que diz lá, muita gente esqueceu de fazê-lo ou não prestou atenção no que disse: "Prometo que, ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência. Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra. Nunca me servirei da minha profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu para sempre a minha vida e a minha arte com boa reputação entre os homens; se o infringir ou dele afastar-me, suceda-me o contrário".