%22Meus agradecimentos se estendem (...) à Internet: descobri que as pessoas estão fazendo upload de suas vidas no ciberespaço, e estou convencido de que todo conhecimento e toda memória humana existirão num hard drive apropriado que, para ser preservado, será lançado para fora do sistema solar para orbitar numa galáxia muito, muito distante.%22
Assim terminam os agradecimentos que encerram a interessantíssima autobiografia do ator/escritor/dramaturgo/comediante americano Steve Martin. Profissional de Internet apaixonada pelas possibilidades do ciberespaço, fico sempre feliz quando leio observações como esta escritas por gente que admiro.
Quando menina, fui uma aficionada pelos filmes nonsense que ele estrelou - começando por Um Espírito Baixou em Mim e O Panaca, e passando por coisas engraçadíssimas como Cliente Morto Não Paga -, e enquanto as minhas colegas só tinham olhos para o Tom Cruise e o Rob Lowe, eu fazia capas de caderno com um humorista grisalho.
Já não sou mais tão fã assim. Apesar de ter achado Shopgirl, baseado num livro dele, muito bonitinho, não tive coragem, por exemplo, de ver sua versão para o Inspetor Clouseau, imortalizado pelo genial Peter Sellers. Só o trailer serviu para me assustar.
Foi, portanto, com um pé atrás que comecei a ler Born Standing Up, em que ele conta a trajetória que percorreu até virar um megapopstar da stand-up comedy e, afinal, acabar trocando a vida nas estradas pela de ator de cinema.
Tocante, sutil e bem escrito, o livro vale a pena. É curioso descobrir o motivo pelo qual ele não morreu de overdose nem entrou numa espiral autodestrutiva como aconteceu com tantos humoristas da mesma geração. A descrição que faz das abordagens que sofria nos tempos de megasucesso permite que o leitor compreenda o que tantos vêem como antipatia de grandes astros como uma atitude perfeitamente normal. A forma como recuperou a relação com os pais depois de muito tempo dá aquela sensação boa de que talvez nunca seja tarde para consertar aquilo que não ficou muito legal pelo caminho.
Por enquanto, infelizmente, o livro ainda não está traduzido para o português. Mas não é preciso ler mais do que razoavelmente bem em inglês para poder curtir essa minha primeira dica do ano.
E feliz 2008 para todos nós.
Postado por Cássia Zanon