Não sou do tipo que detesta as festas fim de ano. Mas também há tempos deixei de esperar com ansiedade por elas. Durante alguns anos culpei por essa, digamos, melancolia em relação ao Natal e ao Ano-Novo a morte do meu pai, em 23 fevereiro de 1996 - três dias depois do meu aniversário de 22 anos -, causada por um câncer descoberto justamente no 20 de dezembro anterior. Ocorre que eu ainda adoro fazer aniversários. E há muito tempo a saudade doída do meu velho deu lugar a uma saudade boa, que o mantém ao meu lado o tempo todo. Donde se conclui que a causa não deve ser essa.
Tenho me dado conta de que não gosto das festas de final de ano da mesma forma como não sou exatamente fã dos dias das mães, dos pais e dos namorados. Porque são dias em que as pessoas se fantasiam para a felicidade. São dias em que a mãe ou o pai têm que ganhar um presente mesmo que o salário de maio e agosto dos filhos não tenha chegado até o segundo domingo do mês. Em que os namorados e namoradas precisam estar disponíveis, lindos e românticos mesmo que a reunião mais difícil do ano tenha acontecido no dia 12 de junho ou a prova de final de semestre caia no dia 13.
No Natal, as famílias enfiam na cabeça que precisam virar família de comercial de margarina e parecem se sentir obrigadas a passar por cima daquela briga boba que aconteceu no dia 22 de dezembro e que precisava de uma semana para ser realmente superada. E a virada do dia 31 para o dia 1º carrega o peso de definir os 365 dias seguintes: seja pelo que se come, seja por quem beijamos à meia-noite, seja por onde estejamos. São datas carregadas de significado compulsório. E isso me incomoda. Me irrita, até.
Se você resistiu à leitura até aqui certamente está pensando que a blogueira não passa de uma cínica, amarga, infeliz, sem família, sem amigos. Preciso confiar que vai confiar em mim quando digo que não, muito antes pelo contrário. Me sinto hoje muito mais em paz comigo mesma, com meus amigos e com a minha família do que quando esperava ansiosamente pela véspera do Natal, pelo Réveillon, pelo Dia dos Namorados.
2009 foi um ano cheio de datas importantes. Vivi alguns bons Natais, outros tantos dias dos namorados, incontáveis dias das mães e vários anos-novos. Porque conseguimos reunir em diversas ocasiões - algumas inclusive citadas neste humilde - pessoas que se gostavam e gostavam de estar juntas. Porque dei e ganhei vários presentes - comprados ou simbólicos - que me fizeram sentir tendo os melhores dias dos namorados ou das mães. Porque alguns dias marcaram o fim de um ciclo importante e o começo de um novo: um exame mostrando a cura da minha mãe, o começo de um novo desafio profissional do meu marido, a decisão da minha irmã de dar um novo rumo à vida dela, o convite para um trabalho novo e desafiador. Nenhuma dessas datas estava previamente marcada no calendário. Todas foram devidamente e muito bem celebradas.
Por isso tudo, decidi propor a mim mesma uma nova abordagem ao fim de ano. Nada de viagens. As estradas vão estar lotadas, e os hotéis e voos, muito mais caros do que o normal. Além do quê, os tradicionais fogos estressam meu cachorro, e não quero imaginá-lo assustado num hotel enquanto eu brindo a chegada de 2010 longe de casa. Nada de festas compulsórias. Quero simplesmente juntar pessoas queridas aproveitando que os dias 25 e 1º são feriados e podemos ficar juntos até bem tarde. Conversando, comendo, bebendo, brincando com as crianças e os animais de estimação que estiverem por perto. No Natal e no Ano-Novo deste ano, tudo o que eu quero é poder sentir mais uma vez a alegria que senti tantas vezes nos últimos 365 dias sem que alguém me dissesse que precisava ser assim.
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