– Arrá! Ela é linda! É linda de verdade! – gritou o Márcio, quando ela veio para o meu colo.
Redondinha, rosadinha, linda. Nossa filha. Nossa Lina. Que levamos quase uma década para conceber e que chegou a este mundo cheia de saúde. E linda. De verdade, não só aos nossos olhos de pais. (Ambos havíamos nos comprometido a dizer que era ela linda, mesmo que nascesse um bichinho de goiaba.)
Ao fundo, tocava "Abba para bebês". Porque, não, a não havíamos levado o iPod com a playlist de versões diferentes de Isn't She Lovely, do Stevie Wonder, selecionadas para tocar na hora do parto. Também não, não havíamos levado as malas, porque eu tinha tirado tudo de dentro delas no dia anterior para reorganizar naquele final de semana e, quando saímos de casa, pouco depois da meia-noite e meia, eu disse para o Márcio que o parto levaria pelo menos 12 horas (de onde eu tirei isso???), e a minha mãe poderia ir buscar tudo naquela manhã, com calma. Assim, pouco tempo depois do nascimento da pitoca, fomos transferidos os três juntos para uma sala de recuperação (ainda não havia leitos disponíveis) com a Lina envolta em cueiros do hospital, e a minha mãe e a minha irmã atravessaram a cidade no meio da madrugada para buscar o que os pais deveriam ter levado ("Como assim, tu foi pra maternidade sem as malas?" foi uma das perguntas que mais ouvi neste último ano).
O filho que demorou tanto a vir havia chegado finalmente. Era uma menina. Era linda. Era a Lina.
Ali comecei a me preocupar (bem pouquinho, é verdade) de que poderia estar sofrendo de algum transtorno do tipo "euforia pós-parto". Aquela alegria toda era normal? Aquela sensação de que eu era capaz de qualquer coisa, de que a vida era linda e cor-de-rosa era provocada pelos hormônios? Tinha de ser. Não era para algo tão sereno e bom que eu vinha me preparando ("Aproveitem para dormir agora, porque depois..." foi uma das observações que mais ouvi ao longo da gravidez.)
Hoje, começo a ter quase certeza de não era transtorno algum. Passado um ano, aqui estou eu, ainda encantada com tudo que tem a ver com a nossa filha. A minha menina. As pessoas dizem que fiquei mais bonita depois de ser mãe, e eu nem encabulo. É verdade, fiquei mesmo. E sei que estou me tornando uma pessoa melhor, e o mérito é todinho dela. Dessa menina encantadora, observadora, alegre e cheia de personalidade que está deixando claro que quanto mais amor sentimos, mais amor somos capazes de sentir.
E nós, que já havíamos nos convencido de que uma vida sem filhos não seria algo ruim – somos bons amigos um do outro, temos amigos queridos, temos interesses e gostos que nos preenchiam os dias satisfatoriamente – percebemos que não conseguimos nos lembrar de como era a vida sem ela. Continuo achando que nossa vida sem filhos não seria algo ruim, mas tenho cada dia mais certeza de que, com ela, é infinitamente melhor.
Por mais que ela tenha os olhos do Márcio e as minhas bochechas, a Lina já é a Lina. Ela gosta de comer (como nós dois), gosta de dar risada de graça (como eu), gosta de observar (como o pai). Também como nós, gosta de gente, de rua, de música... Meu Deus, como gosta de música! E embora possa parecer, não sou daquelas mães que veem o tempo todo talentos e habilidades especiais nos seus rebentos. Acho a Lina encantadora e adorável em sua absoluta normalidade. Não fez nada adiantado em relação à idade, e parece ter lido um livro sobre "o crescimento dos bebês" antes de nascer, porque vem fazendo tudo como manda o roteiro.
Se eu puder desejar apenas duas coisas é que (1) ela consiga manter essa serenidade que vem de não sei onde diante das vicissitudes inevitáveis da vida. E que (2) essas vicissitudes lhe sejam suaves. E se tem uma única coisa que espero definitivamente que consigamos fazer ao longo dos próximos anos é não atrapalhar, poder ajudá-la a percorrer os caminhos sem prejudicar a essência dela.
Hoje faz um ano que começou o melhor ano da minha vida - até agora.
Feliz aniversário, filha amada. Te amo muito e cada vez mais.
Mãe.
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