Com vocês, de novo, Ricardo Freire:
Regina Duarte não avisou
Você deve se lembrar: na última campanha presidencial, Regina Duarte foi à televisão para dizer que estava com medo.
Para quê: o Brasil imediatamente rompeu com a sua namoradinha. A reação foi ainda mais violenta do que a sentida por outra dama da televisão, Marília Pêra, ao declarar seu voto a Fernando Collor, na encarnação anterior. Sem querer, Regina acabou dando o mote para a comemoração da vitória do PT: "A esperança venceu o medo".
Verdade seja dita: o medo não era só dela. Tampouco se restringia aos medrosos. Pouca gente tinha coragem de admitir isso publicamente, mas o fato é que o medo de Regina Duarte era compartilhado também pelos céticos, pelos renitentes e pelos escaldados.
Naquele momento, contudo, quase ninguém veio em defesa de Regina Duarte. Os outros que tinham medo continuaram com suas bocas fechadas.
Três anos mais tarde, o mais esquisito da crise que estamos vivendo é que praticamente nenhum dos temores de Regina Duarte se confirmou. E, mesmo assim, veja a crise que estamos vivendo.
O medo de Regina Duarte - e de tantos outros que não tiveram coragem de ir à televisão - era o de "perder toda a estabilidade conquistada". Medo de o Brasil "virar uma nova Argentina".
Traduzindo: o medo de Regina Duarte era medo de moratória. Não era medo de mensalão.
Examinando com cuidado a fala de Regina, podem ser encontrados indícios do que viria a acontecer. Ela disse: "O Lula eu achava que conhecia, mas tudo aquilo que ele dizia, agora ele mudou". Mas não, ela não quis dizer isso que você está pensando hoje. Naquele momento, Regina Duarte tinha medo do Duda Mendonça, não do Marcos Valério.
O discurso foi curto, e Regina nunca mais se pronunciou sobre o episódio. Ainda assim, é possível intuir do que ela tinha medo exatamente.
Regina Duarte tinha medo de que o dólar fosse à estratosfera e nunca mais saísse de lá. E não que o dólar desembestasse a baixar sem que ninguém soubesse até quando vai continuar caindo.
Ela tinha medo de uma explosão de invasões de terras organizadas pelo MST. E não de uma explosão de juros organizada pelo Copom.
A inesquecível Raquel, mãe da malévola Maria de Fátima, tinha medo da política econômica do Aloizio Mercadante. E não de uma possível volta triunfal do Delfim Netto.
Regina temia que o novo governo fizesse uma revisão radical das privatizações. E não que inventasse tantas novas utilidades para as estatais.
Está bem: ela até tinha algum medo de que viessem a propor a instalação de um organismo como o Conselho Federal de Jornalismo. Mas não tinha medo de que viessem a dificultar a instalação de organismos como CPIs.
A eterna Porcina temia que o nosso Lech Walesa, depois de eleito, se tornasse o nosso Hugo Chávez - e não o nosso Boris Ieltsin.
Não, Regina Duarte não avisou que, antes de darem um jeito nas estradas, eles fossem comprar um Airbus.
Ela não nos alertou sobre o aparelhamento do Estado, nem sobre a volta do clientelismo e do assistencialismo.
Pensando bem, onde estava Regina Duarte que não nos preveniu sobre a possibilidade de a Heloísa Helena ser expurgada, mas o Delúbio, não?
Agora, sim, dá para entender por que Regina Duarte foi tão criticada naquela ocasião. Também, quem mandou não avisar?
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