Para quem, como eu, não costuma viajar muito, os últimos quatro meses foram dos mais atípicos. Em maio/junho, passei 18 dias viajando pela Califórnia, onde a minha irmã estava morando. Agora, de 19 de julho a 3 de agosto, dediquei meus dias a conhecer alguns pontos do velho mundo. Em Portugal, foram três noites em Lisboa e duas no Porto, na Espanha, quatro noites em Vigo e, para encerrar com chave de ouro, quatro noites em Paris.
Sempre impliquei com a mania que o Márcio tem de dizer que não gosta de viajar. Sempre achei que isso não pode ser exatamente verdade, já que ele viaja, sim, principalmente comigo. E a idéia de uma ida ao Rio de Janeiro, a Buenos Aires e a São Paulo costuma sempre ser bem recebida por ele. Eis que depois dessas duas experiências supracitadas acho que entendo melhor o que ele quer dizer e posso afirmar sem medo de me arrepender depois: eu também não gosto de viajar.
Não me entenda mal, eu tenho necessidade de viajar. Adoro conhecer novos lugares, ouvir e falar línguas diferentes da minha, ver luzes novas, sentir sabores e cheiros inéditos - as ruas de São Francisco têm um cheiro muito específico que ainda não consegui definir direito -, mas o processo todo de fazer-mala-ficar-em-aeroporto-voar-dormir-em-hotéis é realmente chato, muito chato. Nesse sentido, descobri que também eu não gosto de viajar. Tenho uma alma não-viajante, fazer o quê.
Vai que daí me veio uma idéia. Livros e blogs para viajantes e turistas há vários e muitos muito bons, como o Ida & Volta da minha amiga Tatiana Klix e o Viaje na Viagem do Ricardo Freire. Vou fazer um guia de viagem e turismo para não-viajantes. Porque viajar é preciso, mas, por exemplo, tem coisas que um não viajante não lê nesses guias apaixonados por viagem.
Você sabia, por exemplo, que um não-viajante, aquele ser que considera a própria casa o melhor lugar do universo, não deveria jamais ficar mais de 10 dias viajando? Pois é. Esta é a primeira dica do meu guia, que ainda não existe, mas começa assim. Porque depois do décimo dia, o turista de meia-pataca começa a contar quantas noites ainda falta dormir para voltar para casa.
Tem também o capítulo que fala de compras. Porque o não-viajante é implicante e, internauta, deixa de comprar quase tudo porque, afinal, sempre pode encomendar pela Amazon. E também se irrita um pouco com o fato de que tudo é Made in China e, well, pode facilmente ser encontrado em São Paulo ou Buenos Aires, que estão, no caso da não-viajante moradora de Porto Alegre, a menos de duas horas de vôo.
O amigo leitor - provavelmente viajante, já que os não-viajantes somos poucos ou ao menos temos vergonha de assumir esse nosso lado jeca e preguiçoso - deve estar pensando: mas por que essa criatura viaja, por Deus? Viajo porque preciso. Porque viajar areja as idéias, nos tira da zona de conforto, nos mostra o quanto não estamos no controle das situações e tudo o mais. Porque às vezes viajar é a única maneira de crescer profissional e pessoalmente. Mas, ai de mim, que inveja da Tati e do Riq, que fazem tudo isso que para mim é tão complicado com prazer absoluto.
*
Aos poucos espero conseguir botar aqui algumas das lembranças desta mais recente viagem. Mas eu queria fazer essa confissão antes.