O dia se espatifa: Living together, writing together

sábado, 11 de abril de 2009

Living together, writing together

Dos muitos ingredientes responsáveis por fazer com que o Márcio e eu ficássemos juntos em 1995, não tenho dúvidas de que a música do Burt Bacharach é um dos mais importantes. Porque, com ele, pude afinal admitir meu gosto pela canções que a maioria absoluta (ou a totalidade?) dos meus amigos achava cafona. No caminho contrário, imagino que tenha causado espanto por, aos 21 anos, cantarolar grande parte das melodias sabendo quem as tinha composto. 

Na semana passada entrevistamos o homem juntos. E escrevemos a quatro mãos a matéria que saiu no Segundo Caderno da Zero Hora deste sábado.

MÚSICA 
Burt Bacharach: “A vida é ótima” 
Octogenário músico e compositor americano faz show segunda-feira no Teatro do Sesi, em Porto Alegre 
CÁSSIA ZANON E MÁRCIO PINHEIRO 
Prestes a completar 81 anos – faz aniversário em 12 de maio –, Burt Bacharach tem recebido em vida homenagens que geralmente só são dedicadas depois que determinados artistas partem para um outro plano. Modestamente, ele não se considera assim tão influente, embora jovens artistas exaltem sua obra e regravem seus sucessos. 
– Não é algo consciente, até porque eu não quero nem posso forçar essa influência. Apenas procuro sempre fazer o melhor possível. Se assim consigo influenciar os outros, isso é ótimo. Na verdade, sou grato aos novos músicos que admiram meu trabalho – diz Bacharach, por telefone, de sua casa nos Estados Unidos, em entrevista para divulgar sua turnê brasileira, que começa nesta segunda-feira, em Porto Alegre. 
É um reconhecimento tardio e justo a quem tanto fez pela música popular americana. Se durante os quase 20 anos em que enfrentou o ostracismo e chegou a ser tachado de brega (muito antes da popularização do termo) e autor de trilha sonora de elevador, Bacharach pode agora ser homenageado pela alta qualidade de sua produção e por aquele ingrediente tão esquecido em muitas canções contemporâneas: a sofisticação. 
Com exceção da santíssima trindade da música dos EUA da primeira metade do século passado – George Gershwin, Cole Porter e Duke Ellington –, nenhum outro compositor produziu tantos sucessos com tamanha qualidade. Só na década de 1960 foi uma enxurrada de hits: What the World Needs Now Is Love, I Say A Little Prayer, Alfie, The Look of Love, A House is Not a Home, Raindrops Keep Fallin on My Head,(They Long to Be) Close to You, Do You Know the Way to San Jose?. Todos gravados pelos mais variados intérpretes: de Dionne Warwick (sua afilhada musical) a Stan Getz, de Sérgio Mendes a Wilson Simonal, de Ella Fitzgerald a Tony Bennett, de Carpenters a Elvis Costello. Quem nessa época fez mais do que ele? Talvez só a dupla Lennon & McCartney, no auge da beatlemania. 
Pela influência do jazz e pelo gosto por melodias requintadas, Bacharach esteve próximo da bossa nova. Da sua primeira visita ao Brasil, há exatos 50 anos, acompanhando – como maestro e namorado – a atriz e cantora Marlene Dietrich, guarda as melhores recordações. Mesmo distante, o músico diz não ter perdido o contato e ainda hoje se interessa pela música de Tom Jobim, Milton Nascimento, Ivan Lins e Djavan, chamando atenção para o caráter inovador dos brasileiros. 
Sobre os últimos anos, o músico concorda que eles lhe têm sido generosos: 
– A vida é ótima. Ainda mais quando se pode fazer tudo de novo, como eu estou fazendo. 
Ele não se refere apenas ao trabalho, mas ao fato de ter tido uma nova chance na vida pessoal. Bacharach tem três filhos jovens, dois ainda adolescentes. A preocupação com o mundo que deixará para esses filhos, aliás, ele deixa claro ao responder à pergunta “Do que o mundo precisa agora?”. 
– Além do amor? – rebate Bacharach, recebendo com risos e simpatia a brincadeira proposta na entrevista com o título uma de suas canções mais conhecidas (What the World Needs Now Is Love). – Pelo que tenho ouvido falar, o mundo precisa seguir o exemplo do Brasil, um país que está sabendo enfrentar a crise econômica, com qualidade de vida para sua população. 
Dez anos depois de ter vindo pela última vez no Brasil, o compositor se empolga ao falar sobre a nova turnê pelo país, que depois da escala na capital gaúcha segue para São Paulo e Rio de Janeiro. Desta vez, ele se apresentará ao piano com a banda formada por Elizabeth Chorley (violino), David Coy (baixo), David Crigger (bateria e percussão), Thomas Ehlen (trompete e flugelhorn), David Joyce (teclado), Rob Shrock (teclado), Dennis Wilson (sopros) e John Pagano, Josie James e Donna Taylor nos vocais.
No final, Bacharach encerra a conversa como se tivesse conversado muito mais do que poucos minutos. E, já íntimo, recomenda: 
– Só uma coisa antes de nos despedirmos: por favor, me chamem de Burt.
Música para ver 
Não bastava ter o nome incrustado na história da música popular das últimas cinco décadas. Burt Bacharach também fez e faz história no cinema. A tal ponto que a canção que escreveu para Butch Cassidy e Sundance Kid (1969) – Raindrops Keep Fallin’ on my Head – pode ser considerada personagem fundamental na antológica cena que mostra Paul Newman e Katharine Ross andando de bicicleta. 
O mesmo acontece na cena de O Casamento do Meu Melhor Amigo (1997) em que Rupert Everett puxa um coro de I Say a Little Prayer durante um jantar.
De acordo com o site IMDb, canções de Bacharach integram nada menos do que 196 trilhas sonoras de filmes e programas de TV produzidos desde 1957. O canadense Mike Myers admitiu ter se inspirado na obra de Bacharach para criar Austin Powers, o espião que é congelado na década de 1960 e volta à ativa 30 anos depois. Não por acaso, o músico faz aparições nos três filmes do personagem. 
Mais notadamente, a inspiração de Myers teria sido provocada pela trilha sonora do bem-humorado Cassino Royale, de 1967, em que Peter Sellers interpreta James Bond, e pela qual Bacharach concorreu ao Oscar de melhor canção original de 1968. Já havia concorrido outras duas vezes: em 1966, com What’s New Pussycat, e em 1967, com Alfie. A Academia lhe deu três estatuetas. Duas em 1970, por canção original e trilha sonora de Butch Cassidy e Sundance Kid, e outra em 1982, pela canção Arthur, composta para o filme Arthur, um Milionário Sedutor.
Em 1996, compôs com Elvis Costello a canção God Give Me Strength para o filme A Voz do Meu Coração. Dois anos depois, a música integrou o álbum Painted From Memory, que deu aos dois o Grammy de melhor trabalho em duo ou grupo.
Essencial 
Tudo o que você precisa saber sobre Burt Bacharach está em The Look of Love – The Burt Bacharach Collection (Rhino Records, 75 faixas, preço médio R$ 200), refinada coletânea com o que de melhor o grande compositor americano produziu. Mais: a caixa com três CDS e um rico libreto com textos e (muitas) fotos é quase um quem-é-quem da moderna canção. Além de todas as músicas citadas nessa reportagem, o ouvinte poderá se regalar com nomes como Stevie Wonder, Dusty Springfield, Trini Lopez, Herb Alpert, The Drifters...

Um comentário:

  1. Cássia, te comheço há tantos anos e não sabia que tínhamos gostos musicais em comum. Também eu gosto da "Santíssima Trindade" e do seu Burt. Vá ver o homem tocar e depois conte para a gente como foi.

    Um abraço.

    Danilo

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