Hoje lembrei de um período da minha vida que estava esquecido em algum canto empoeirado da minha memória. Lembrei de uma excursão de espeleologia que fiz aos 15 anos para uma região linda de São Paulo. Não, o caríssimo leitor não leu errado. Embora possa não tenha nada a ver comigo hoje (e pensando bem não tinha a ver comigo na época também), um dia eu me enfiei num ônibus, andei umas quatro horas não sei bem para onde (aos 15 anos, o que acontece dentro de um ônibus de excursão supera qualquer paisagem que possa estar se exibindo pelas janelas), dormi num alojamento cheio de beliches e passei quatro dias caminhando no meio mato.
A coisa toda não termina aí. No passeio, conheci três grutas e andei dois quilômetros e meio dentro de uma caverna. A chuva que caiu sobre Porto Alegre hoje me trouxe, por alguns minutos, o cheiro do mato molhado, da umidade de dentro da caverna. Lembrei então do momento em que todos desligamos as lanternas e ficamos no escuro completo. No silêncio completo. E aquele momento é mais claro para mim do que todas as brincadeiras, os tombos que eu levei na caminhada, a mão cheia de espinhos, as inevitáveis galinhagens com os guris mais velhos.
Quer saber, fiquei nostálgica. Sem nenhum motivo específico, quase desejei que aqueles dias voltassem. E não só pela despreocupação total, pela companhia da melhor amiga de infância, pela sensação de que estava fazendo algo que ia contra a minha natureza (desde sempre caseira e mais afeita a um bom livro e um bom filme do que à intempérie ecoturística) e gostando de tudo aquilo. Fiquei com saudade daqueles amigos de quem sei muito pouco hoje (alguns estão na minha lista do Orkut, mas vocês entendem o que eu quero dizer), com saudade da minha vidinha besta de estudante do interior.
Pensei ainda em fazer agora uma viagem daquelas. E por que não? Divertido seria. Mas não sei se eu ainda quero ir contra a minha natureza. Talvez aquelas experiências tenham cumprido um papel importante, mas não devam ser repetidas. Além disso, não sei se hoje eu entraria dois quilômetros e meio para dentro de uma caverna... A não ser que me garantissem que o celular pegaria lá dentro.