O dia se espatifa: Meu autor de auto-ajuda de estimação

quinta-feira, 29 de junho de 2006

Meu autor de auto-ajuda de estimação

Era maio de 1997, e eu fazia a minha primeira viagem ao Rio de Janeiro, a segunda viagem na companhia do Márcio. Louca de faceira com as livrarias lindinhas de Ipanema e Leblon, onde passamos grande parte do nosso tempo, resolvi comprar – na Letras & Expressões – um livro que não falasse sobre jornalismo e retomar a minha vida de leitora leiga. Sim, porque pouco mais de um ano depois de formada, eu ainda estava bitolada nas leituras "profissionais" ou de textos jornalísticos e de não-ficção.

Dois segundos depois de tomada a decisão, bati o olho num livro de capa bacaninha – quem nunca comprou livro pela capa, que atire a primeira pedra – e me encantei pelo título: Ensaios de Amor. Mais alguns segundos, e a leitura da orelha me deu a certeza: é este! As 228 páginas não resistiram ao fim das férias, e olha que a gente fez coisa naqueles dias. Devorei o livro em muito pouco tempo. Não lembro muito bem, afinal, lá se vão quase dez anos, mas, se não me engano, ele cita amiúde o Roland Barthes de Fragmentos de um Discurso Amoroso.

Abre parênteses. Também pode ser misturança da minha cabeça. É que Fragmentos de um Discurso Amoroso foi o primeiro livro que li na faculdade, em 1992, na cadeira de Semiótica. Absolutamente todas as páginas acabaram rabiscadas e marcadas de todas as formas. Foi um deslumbramento. Tirei 10 no trabalho. Minha primeira nota 10 na faculdade. O livro, emprestei a alguém que não me devolveu. Tristeza absoluta e perda irreparável até hoje. Não tanto pelo livro, mas pelas anotações. O que será que a Cássia de 32 anos pensaria das anotações da Cássia de 18? Enfim. Fecha parênteses.

Sei que, antes de qualquer coisa, ler aquele livro específico do Alain de Botton me fez voltar a ler só por prazer. Sem pensar no que o livro ia me acrescentar. A partir dali, e até agora, devo confessar, leio praticamente qualquer coisa que caia nas minhas mãos e me suscite o menor interesse.

(Re)descobri muitas coisas boas em estilos por vezes absurdamente distintos: Antônio Torres, Bill Bryson, Carl Hiaasen, Carlos Heitor Cony, Cláudia Tajes, Fausto Wolff, Flávio Tavares, Helen Fielding, Inês Pedrosa, Jeffrey Steingarten, Kurt Vonnegut, Machado de Assis, Nick Hornby, Paul Auster, Ricardo Freire, Rosa Montero – para citar só alguns dos quais li pelo menos dois livros desde então. Também li muita porcaria, é verdade. Principalmente na categoria "livro mulherzinha", mas não é sobre isso que eu estou falando.

E por que lembrar de tudo isso agora? Porque depois de ler Movimento Romântico e achar mais ou menos, comprei dois paperbacks do mesmo de Botton antes de saírem em português, porque a pressa era grande. E foi quando comecei a ler How Proust Can Change Your Life que a coisa desandou. Meu desconfiômetro me fez achar que eu estava lendo auto-ajuda, e meu preconceito me obrigou a escondê-lo de mim mesma. Junto, escondi Kiss & Tell, o outro paperback ali de cima.

Há uma semanas, tentando organizar os meus livros, encontrei os dois, pobrezinhos, cheios de poeira. Picada pelo mosquito da moda da "filosofia pop", resolvi dar mais uma chance antes de levá-los ao sebo. E não é que o encanto renasceu? Pedi os últimos livros traduzidos no Brasil. Ainda não ganhei/comprei todos, mas estou lendo e curtindo As Consolações da Filosofia, e o Desejo de Status já está na cabeceira, me provocando.

E tem mais: curti muito o How Proust Can Change Your Life. Tanto que fiquei com muita vontade de efetivamente ler Em Busca do Tempo Perdido. Em 1997, foi o Alain de Botton que me devolveu à pura e simples literatura (e conseqüentemente me levou a achar que talvez traduzir pudesse ser o meu plano B). Nove anos depois, ele me aproxima de Marcel Proust. Agora, me diz, se o que ele escreve não é auto-ajuda, o que é?

4 comentários:

  1. Ai, eu não li.
    Aliás, te lendo aqui, tive certeza de que leio muito, muito, muito pouco.

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  2. Eu não sei o que é. Mas eu me apaixonei por ele lendo "Ensaios de Amor"!!!! hehehehe

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  3. cassia, preciso de ajudas htmlisticas...
    tica

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  4. Here are some links that I believe will be interested

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