O dia se espatifa: Recordar é viver

segunda-feira, 4 de setembro de 2006

Recordar é viver

Por motivos profissionais, estou às voltas com lembranças do 11 de Setembro de 2001. Eis que fazendo aquela busca básica por "Cássia Zanon" (atire a primeira pedra...) na web, dou de cara com este texto escrito pela Lu Aquino há quase cinco anos para a Revista Press, de Porto Alegre.

O atentado que não abalou o Terra
Luciane Aquino*

Terça-feira, 11 de setembro de 2001. Às 9h, tudo o que eu desejava era um dia calmo para que a redação pudesse se recuperar do caso Silvio Santos e um expresso encomendado ao nosso cyber-café. Minha coluna deste mês, com o tema “O erro na Internet” (desde já prometido para a próxima edição), ia a meio caminho. Três horas depois, meus planos haviam desabado junto com o World Trade Center. E, se você estiver me lendo agora, isto significa que o nosso editor José Luiz Prévidi decidiu esperar que eu entregasse o texto e resistiu à tentação de lançar um 767 contra o sexto andar do Terra, como eu cheguei a temer que ocorresse quando meu prazo para terminar a coluna já tinha vencido há cinco dias.

Neste exato momento, vôo para o Rio de Janeiro. Ao contrário do que esperava, comi a comida de mentira com talheres de verdade, e os procedimentos de segurança no embarque não passaram de uma detida análise da minha carteira de identidade. Mais porque evidentemente a moça não sabia o que estava procurando no documento do que pelas suspeitas que a medonha foto possa levantar.

A pergunta que, baixada a poeira em South Manhattan, ronda a mente de quem trabalha na redação do Terra é: será que estes acontecimentos significarão para a Internet o que foi a Guerra do Golfo para a televisão a cabo? (A comparação é de autoria da editora-assistente Cássia Zanon, mas todos nós já roubamos e tomamos como nossa.)

Na Guerra do Golfo, a CNN se firmou porque foi a única emissora ocidental a permanecer em Bagdá, mas também porque, contrariando o que até então ocorria nas televisões, entendia a sede do público por informação contínua em determinadas ocasiões. A CNN apostou integralmente numa coisa que ninguém fazia em larga escala: jornalismo 24 horas, 7 dias por semana. Ganhou fama de emissora ágil e de credibilidade. O lugar onde alguém deve estar se quiser saber das coisas na hora.

Algo parecido aconteceu com a Internet depois do meu expresso matinal no dia 11 de setembro. Nunca uma cobertura do Terra teve tão bom retorno. O incremento da audiência e as mensagens elogiosas que recebemos dos usuários do mundo inteiro mostram que acertamos na mosca. Tivemos uma audiência maior do que a declarada pelo nosso maior concorrente. Foi um sucesso baseado em dois fatores. O primeiro se deve a uma perfeita sintonia entre a redação e as equipes de telecomunicações e tecnologia: a Terra permaneceu firme quando a maioria da concorrência saiu do ar porque a sua estrutura não comportou o tráfego.
Hoje estou num dos concorrentes do Terra. Minha camiseta é outra, mas não consigo não olhar pra trás e ver com orgulho o trabalho da equipe que eu integrava na época – e que não existe mais.

4 comentários:

  1. aquela era uma equipe fantástica, realmente. eu gostava muito de trabalhar naquela época. Os colegas proporcionavam um clima agradável, além de serem profissionais competentes, principalmente os da chefia. Bons tempos. Pena que o que era bom, acabou... de maneira tão trágica: pela incompetência.
    Pelo menos as boas lembranças ficam.

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  2. voces realmente sentem falta dos dias de silvio santos sequestrado e 11 de setembro trabalhando 18 horas sem parar?? :) eu tb.

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  3. Estou lendo agora "Na pior em Paris e Londres - A vida de miséria e vagabundagem de um jovem escritor no fim dos anos 1920", de George Orwell, e ele descreve assim o trabalho em um grande hotel parisiense na hora das refeições:
    "É algo tão diferente do trabalho em uma loja ou fábrica que à primeira vista parece resultado de má gerência. (...) O trabalho em um hotel não é particularmente duro, mas, por sua natureza, acontece em ondas e não pode ser feito com antecedência. Você não pode, por exemplo, fritar um bife duas horas antes dele ser pedido; é preciso esperar até o último momento, quando inúmeras outras tarefas já se acumularam, e então fazer tudo junto, numa pressa frenética. O resultado é que, nos horários das refeições, todo mundo trabalha por dois, o que é impossível ocorrer sem barulho e discussão. Com efeito, as altercações são uma parte necessária do processo, pois não haveria paz se cada um deixasse de acusar o outro de indolência (...) todo o pessoal vociferava e praguejava como demônios. Nesses momentos, dificilmente havia outro verbo no hotel que não fosse "foutre".

    :-)

    Lu

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