O dia se espatifa: Da série coisas que eu queria ter escrito

quinta-feira, 29 de março de 2007

Da série coisas que eu queria ter escrito

Eu quero ver a Sandy em Porto Alegre. Como me falta o tempo e principalmente o talento para falar sobre isso, uso do copy+paste para fazer minhas as belissimamente escritas palavras do Paulo Roberto Pires:
Sandy,de novo, e o gosto dos outros

Eu gosto da Sandy, escrevia eu, comendo minhas goiabinhas (obrigado, Stanislaw), quando a caixa de comentários do post retrasado virou uma divertidíssima confusão entre o fã-clube de carteirinha da mocinha e os chamados “amantes do jazz”.

Esta discussão sobre as supostas breguice e falta de talento da Sandy e a suposta pureza do jazz me fez lembrar “O gosto dos outros”. Vocês viram? É um filme incrível, da francesa Agnès Jaoui (que também é ótima cantora), que mostra como o gosto é determinado pelo status social mas também o determina. E a gente acompanha, perplexo, como um empresário grosseirão apaixonado por uma atriz tem que suar o terno para mostrar que também é gente num mundo (do teatro) em que todo mundo tem opinião, lê boas coisas, ouve boas coisas. É coisa boa demais para ser verdade, aliás.

Pois quando Marisa Monte lançou aquele “Memórias, crônicas de declarações de amor” - que na época, 2000, me pareceu chatíssimo e hoje me parece mais ainda - fiz um “blind test” com a minha enteada (aquela que gostava do “Sandyjúnior”). Botei para ela ouvir uma baladinha, chatiiiiiiinha, em que a Marisa esganiçava um “É estraaaaaaanhuuuuuu” e mandei: “Legal a nova música da Sandy, né?”. Ela parou, pensou e logo ficou indignada: “Mas essa eu ainda não ouvi!”

Ou seja, se, sem rótulo, toda muderna tem seus dias de baba-baladeira, por que não o contrário? Mas aí vem outro problema de gosto, que se deve discutir: os chamados “amantes do jazz”, que sabem a cor da camisa que o Charlie Parker usava no dia em que gravou “Laura” e, nos festivais, ficam tentando adivinhar a música no primeiro compasso. Haja.

E estes “amantes do jazz”, por exemplo, adoram a aborrecidíssima Madeleine Peyroux - que, vamos combinar, é muito mais brega do que a Sandy. Mas tem cara de triste e melancólica, toca aquele violãozinho safado e, inegavelmente, imita a Billie Holliday - quando Lady Day era acometida por um resfriado, é claro.

Isso tudo é menos engraçado quando se fala em “pureza” do jazz. Aí eu me arrepio. A última vez que alguém levou a sério esse negócio de “pureza” foi na Áustria, nos anos 30, e deu no que deu. Na Tropicália, a instalação histórica, o Hélio Oiticica pregou uma plaquinha: “A pureza é um mito”. Eu diria que, mais do que mito, é um perigo. Toc toc toc.

O certo é que ficou combinado por alguém (inteligente) em algum lugar (chique) que é legal gostar da Marisa, mexer seu uisquinho ouvindo a Madeleine se esganiçar e que não pega muito bem gostar da Sandy. Mas, como eu ia dizendo de novo quando isso tudo começou, eu gosto da Sandy.

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