O dia se espatifa: Recordar é viver (1)

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Recordar é viver (1)

Tem alguns posts que publiquei nos blogs anteriores pelos quais nutro algum carinho. De vez em quando, vou publicar um deles por aqui. Este primeiro foi escrito há um ano, depois de eu tomar a minha primeira anestesia geral.

Sei lá, gostei...

Da superação dos medos e do medo dos micos

Então eu tomei a minha primeira anestesia geral. Foi na terça-feira, num exame/cirurgia que eu tinha marcado no fim de outubro e que desde então vinha me tirando o sono e a atenção devida das coisas importantes. Planos para depois do dia 7/11/2006? Podia ser, mas eu não sabia se estaria por aqui ainda...

Paraíso/inferno dos hipocondríacos e dos neuróticos (como eu), a Internet informava através de vários trabalhos científicos sérios que o risco da intervenção era de 3 para 1000. Três para 1000. Não cheguei a pesquisar, mas imagino que o risco de ser atropelada ao sair de casa seja maior. Nada que alivie as ansiedades de uma ansiosa crônica como eu. (Os sites que %22vendem%22 a técnica do exame sequer falavam em riscos, mas desses eu queria distância.)

Como dá para notar pelo post, eu sobrevivi à anestesia, e o resultado do exame/cirurgia foi o desejado. Tudo muito simples, como meu querido e paciente médico cansou de explicar que seria. Mas eu TINHA PÂNICO da anestesia. Tanto pânico que cheguei a pensar em fazer um post despedida, para ser publicado postumamente. Exagerada? Imagina.

O pior, no fim, foram os micos que se sucederam depois do despertar. Lembro vagamente de alguns, e tenho certo medo de perguntar para o médico se a coisa foi pior do que me lembro.

– Tu tá bem? – perguntou o médico.

– Tô maravilhosa – respondi, hiperbolicamente, pensando %22estou viva! estou viva!%22.

– Tá com alguma dor?

– Não, tô ótima! – Mentira, estava com dor, sim, mas estava viva, estava viva!

Mexi os braços. Mexi as pernas. %22Beleza, não afetou os movimentos.%22 De repente, paúra:

– Eu não consigo sorrir! Eu não estou conseguindo sorrir! – Aqui vem o momento pavor de verdade. Será que eu disse isso só duas vezes como me lembro ou será que saí gritando a caminho da sala de recuperação fazendo caretas e tentando desesperadamente sorrir? Tenho a vaga impressão de que os médicos e as enfermeiras à minha volta estavam às gargalhadas. Acho que não quero saber.

Já na sala de recuperação, a enfermeira que ficou me monitorando me pergunta:

– Tu sabe o teu nome completo?

– Cássia Zanon – respondi, prontamente. Acho que para garantir, emendei, sem que ela me perguntasse nada: – Nasci no dia vinte de fevereiro de mil novecentos e setenta e quatro.

Ainda não sei se não segui informando endereço, CPF, RG, filiação etc. Mas que fiquei louca de faceira que não tinha ficado com amnésia, ah, fiquei.

De todos os motivos que me levam a ser grata por ter saído %22viva%22 da sala de cirurgia, o maior foi a última frase que eu lembro de ter dito antes de capotar e que não poderia ser mais deprimente como últimas palavras de qualquer cristão:

– Doutor, acho que o senhor botou alguma coisa na minha bebida.

Não, né?




Postado por Cássia Zanon

Um comentário:

  1. hahaha...... alguém pior que eu, achei que fosse impossível... é horrível sentir isso...

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