O dia se espatifa: Por mais que eu leia, ouça e veja...

quarta-feira, 24 de maio de 2006

Por mais que eu leia, ouça e veja...

Faz horas que não consigo escrever nada que preste. Não é falta de ler, ouvir, ver, de prestar atenção ao mundo e às coisas que estão acontecendo. Imagino que seja o tal bloqueio de escritor – relevando-se o fato de que eu não sou escritora. Lendo os blogs amigos não paro de me sentir uma inútil porque não estou conseguindo me emocionar/indignar/encantar suficientemente a respeito de nada a ponto de querer escrever sobre o assunto. Também tem o superego que sempre atrapalha, claro.

Outro dia, por exemplo, a apresentação da edição de 2004 de um livro da Oriana Falacci que o Márcio comprou em Buenos Aires me deu uma vontade doida de escrever sobre a maldição do politicamente correto que hoje nos impede de ter raiva de bandido e terrorista, do medo que sentimos de ferir suscetibilidades e parecer que estamos pendendo para a "direita".

Jornalista de reconhecimento internacional e com posicionamentos desde sempre corajosos e contrária a qualquer tipo de fascismo e arbitrariedade, ela escreveu com raiva sobre os ataques terroristas de 11 de setembro e foi atacada por todos os lados por causa disso. Confesso que ainda não tive tempo de processar a idéia toda, mas estaria sendo hipócrita se dissesse que não me identifiquei com o que ela escreveu.

Queria poder escrever com clareza sobre a complexidade do mundo e esta sempre presente sensação de impotência por não conseguir compreender o que acontece, por mais que leia, ouça, veja. Lembro das aulas de geopolítica e história de que tanto gostava no colégio, numa época em que a estrutura de tudo era tão mais simples. De antes de 1989, quando a divisão mundial era tão mais clara, e o mundo tinha mais do que um dono. Era péssimo, mas eu compreendia. Hoje é péssimo, mas eu não sei ainda mais muito bem por quê. Por mais que eu leia, ouça. veja.

Enfim, queria fazer o que estou fazendo agora, mas o meu lado jornalista me diz que assim não se faz. Que é preciso pesquisar, buscar fontes, comparar informações, encontrar o que estiver mais perto da verdade, dar os dois lados. Meu lado tradutora me diz que preciso pensar muito nas palavras que vou usar. Meu lado supercrítico fica gritando que escrever com o coração tende a resultar num texto frágil, facilmente desmontável, e do qual eu provavelmente venha a me envergonhar logo ali em frente.

Azar, vai assim mesmo.

Um comentário:

  1. Putz, me identifiquei muito com a parte das aulas de história... Era bem mais fácil mesmo. Até porque tinha um professor para guiar os pensamentos. Eu sempre digo que a maior fonte de felicidade é a ignorância. Enquanto não conhecemos o que não temos, ou não sabemos, ou o que nunca vamos alcançar, a gente é feliz com o que tem...

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