O dia se espatifa: Nepotismo

quinta-feira, 29 de março de 2007

Nepotismo

O Márcio Pinheiro escreve bem pra caramba. Escreve textos como este, sobre o Wilson das Neves. Ah, sim, ele também é meu digníssimo marido. E o elogio ao texto não é por isso. Até porque eu provavelmente não teria me casado se ele não escrevesse tão bem ;-)

O admirável Wilson das Neves

Márcio Pinheiro

"Ô, sorte!", saúda o baterista Wilson das Neves, usando um bordão - já conhecido entre os músicos do Rio de Janeiro - repleto de significados. Sorte dele de, aos 70 anos, estar plenamente realizado e ainda na ativa, com uma carreira musical das mais sólidas entre os instrumentistas brasileiros.

Sorte de Chico, que conta com esse artista múltiplo em seu grupo há mais de duas décadas.

Sorte nossa, que, a partir de hoje, poderemos vê-lo ao vivo no Teatro do Sesi, em Carioca, show de Chico Buarque, tocando bateria e dividindo os vocais com o protagonista.

Nascido em 1936, Das Neves é um carioca de Madureira, flamenguista e Império Serrano, filho de uma baiana da escola.

- Já nasci Império Serrano. Quando era criança, eu ia ver o desfile na Praça Onze. Depois, ainda adolescente, comecei a tocar na bateria e nunca mais parei de desfilar - explica o músico.

Um dos instrumentistas mais respeitados da MPB, a carreira de Das Neves começou cedo, aos 14 anos, quando ele passou a ter aulas com o percussionista Edgar Nunes Rocca, o Bituca.

- Foi ele quem me levou para a escola Flor do Ritmo. Depois, aos 18 anos, comecei a freqüentar o "ponto dos músicos", na praça Tiradentes e fui conhecendo pessoas. Meu primeiro trabalho profissional foi no Dancing Brasil, na orquestra de Ubirajara Silva.

A partir daí não parou mais. Participou de vários conjuntos, entre eles o de Steve Bernard em 1963, a Orquestra de Astor Silva em 1964, o Conjunto de Ed Lincoln em 1965, a orquestra da TV Globo no Rio e a orquestra da TV Excelsior de São Paulo, além de tocar com alguns dos maiores nomes da música brasileira.

- Faz o teste aí: vai dizendo os nomes dos músicos e certamente eu terei tocado com eles - desafia Das Neves.

Os cinco primeiros citados - Tom Jobim, Paulinho da Viola, Jorge Benjor, João Donato e Caetano Veloso - foram confirmados pelo baterista, que ainda acrescentou à lista Elizeth Cardoso, Elza Soares, Roberto Carlos, Elis Regina, Wilson Simonal, Baden Powell e Chico Buarque, que vem sendo seu parceiro mais freqüente nos últimos anos. Paralelamente, Das Neves é integrante da Orquestra Imperial, big band que reúne 18 músicos fixos e vários agregados de peso, juntando nomes como Nelson Jacobina, Moreno Veloso, Rodrigo Amarante e Pedro Sá.

Na última década, a carreira do músico ganhou novos rumos. Depois de ter lançado vários discos como instrumentista - O Som Quente É o Das Neves (1969) e Samba-Tropi - Até aí Morreu Neves (1970) -, o baterista estreou como cantor em 1996, em O Som Sagrado de Wilson das Neves, abrindo seu baú de composições. O disco trazia um clássico instantâneo (O Samba É Meu Dom) e garantiu a ele um Prêmio Sharp. Por incrível que pareça, de músico-revelação.

- Fui convidado para fazer um disco instrumental, mas não quis. Já tinha feito outros. Queria gravar minhas músicas, interpretá-las. Aliás, nem me considero um cantor. Sou apenas um intérprete das minhas músicas - diz Das Neves, destacando que o sucesso do CD favoreceu o lançamento de um outro disco, Brasão de Orfeu.

- O Chico soube dessas minhas parcerias e disse que gostaria de fazer uma música comigo. Foi assim que nasceu Grande Hotel.

Ao lado de Chico Buarque, com quem trabalha há mais de 20 anos, Das Neves agora joga em outras posições e deixa a defesa para vir para a linha de frente. Em Grande Hotel (27ª música apresentada em Carioca), Das Neves divide os vocais com o cantor. Ele lembra que foram necessários vários shows para relaxar no dueto quando está no palco com Chico, a quem chama carinhosamente de "chefia".

- Eu me sinto como o Coutinho, tendo que passar a bola nada mais nada menos que para o Pelé. É muita responsabilidade.

3 comentários:

  1. concordo, gosto muito dos textos do márcio. e o dueto foi um dos melhores momentos do show :) beijocas

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  2. o texto do marcito eh muito bom mesmo. tenho minha opiniao sobre o chico (por favor, nao mandem cortar minha cabeca): genio na composicao, genio nas letras e genio da musica popular brasuquinha. genio, genio, genio! e eh so por causa dessa genialidade que ele sustenta a falta de voz, aquela vozinha fraquinha mas educada.

    nao fui ainda no show, mas domingo eu vou! urru!

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  3. Eu li o texto do Márcio e gostei muito!!! Achei melhor que o que escreveram para o Chico naquele dia!

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