O dia se espatifa: Como assim, planos?

terça-feira, 6 de março de 2007

Como assim, planos?

Lendo este post da Tica, eu me dei conta de uma coisa fundamental na minha vida: não faço planos. Pelo menos não a longo prazo. Acho que nunca fiz. É verdade que sempre sonhei muito, e alguns dos meus sonhos se realizaram, outros estão se realizando. Tem também aqueles que ainda dá para realizar e os tantos que abandonei – como me casar com o John Cusack, por exemplo.

A morte do meu pai aos 48 anos parece ter tido um grande peso nisso. Por um lado foi bom, porque nunca me prendi a objetivos predeterminados. E esse desprendimento me fez mudar de emprego por vontade própria aos 23, aos 26 e aos 29 anos, atrás de detalhes que o emprego anterior não era capaz de me dar. Não me arrependo das mudanças, e eu as faria all over again. Mas hoje me pego invejando um pouco meus amigos que fizeram concurso público. É o meu lado acomodado, que ainda não falou alto o bastante.

Nunca planejei ser tradutora, mas, desde o primeiro livro que traduzi, em 1999, meio que num impulso de "preciso ter uma alternativa à dura vida de jornalista mal paga", peguei um atrás do outro e já são quase oito anos disso. E hoje não consigo mais imaginar minha vida sem esse exercício diário de traição involutária do talento alheio. No meu trabalho diário, planejamento é fundamental, mas estou convencida de que esse planejamento precisa ser meu guia, não meu patrão. Porque se um desvio aparecer no meio do caminho, é preciso estar alerta e disponível para aceitá-lo e percorrê-lo, porque é provável que, no final, a melhor resposta pode estar ali, não lá.

Sempre quis ter filho antes dos 30. Aos 28, comecei a fazer os primeiros exames, mas a gente se mudou para São Paulo, e eu resolvi que não dava pra ter filho na desvairada. Pelo menos não tão cedo. Quiseram os astros que voltássemos a Porto Alegre, e, aos 31, retomei o projeto. Aos 32, descobri que precisava fazer um tratamento. Nesse meio tempo, aprendi uma regra de etiqueta fundamental que não se ensina nos livros: JAMAIS pergunte a um casal casado há muito tempo "e aí, e os filhos?", nem faça comentários cretinos como "vocês precisam parar de tratar os cachorros como filhos e providenciar um herdeiro". Porque às vezes os filhos não vieram porque ainda não deu certo. E cada vez que alguém faz uma pergunta dessas, a gente fica um pouco triste. Pensando bem, todas essas perguntas que envolvem deviam todas ser proibidas, ou ao menos malvistas. Abaixo aqueles parentes distantes que insistem em perguntar para as solteiras sobre "os namorados", ou ao vestibulando "que curso tu vai fazer", ou à gordinha "como vai aquela dieta" etc. etc. etc.

Planos, desejos e sonhos são importantes, mas não podem estar relacionados diretamente à nossa idéia de felicidade. Porque se a gente faz isso, está pavimentando uma estrada quase certa para a frustração. Porque pela minha pouca experiência, a felicidade é uma coisa com a qual a gente topa de repente, que pode vir numa coisa em que a gente não tinha sequer pensado. Uma viagem surpresa. Um fim de semana sem perspectiva social que acaba virando uma festa. A minha vida, afinal, acaba sendo como esse post: começa numa direção, toma um rumo diferente e termina numa terceira via, ainda sem cara de fim. Porque como dizia o meu finado perfil do Orkut, sou um work in progress.

Queridos 17, perdão pelo post comprido e desabafo, mas eu tava precisando.

7 comentários:

  1. Cassia, sou como voce, nao tenho planos e, pior, nem tenho sonhos. Encalhei fazendo a lista das 5 coisas que quero fazer antes de morrer. Conversei com o meu marido e ate chorei, pois cheguei a conclusao que nao quero fazer nada, nao tenho planos. Ele, no seu positivismo natural, me disse - eh porque voce tem uma vida boa e esta feliz assim. Tomara que seja! :-)

    Essa historia das cobrancas das pessoas enche. Comigo agora eh a frase que mais me irrita - quando veem os netinhos? Fico louca da vida, e respondo que nao quero ter mais descendentes, porque o mundo esta uma m* e o planeta vai se desintegrar em breve! :-)

    beijocas,

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  2. Sabe que eu também não?!
    Mas preciso fazer um pouco, porque algumas coisas que quero fazer na vida precisam de um pouco de planejamento e se eu deixar o tempo vai passando... passando...

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  3. Adorei! E como me identifiquei...vamos publicar o Manual de Etiqueta com as perguntas proibidas!!!! A pergunta sobre os filhos nesse contexto realmente dói...e ninguém parece entender.
    Mas até lá, vamos mudando de emprego sempre que o detalhe faltar (mas que inveja às vezes dos concursados....hahaha)

    beijo,

    Lu Gerbovic

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  4. Planos só trouxeram frustração. Pelo menos para mim :(

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  5. fezoca, teu marido tem toda razão :-)

    fer, um pouco de planejamento é necessário, mas acho que a gente tem que saber desviar o caminho sempre que for preciso ou der vontade...

    Lu, não é verdade? Bom saber de ti. :-)

    Não fica assim, Isabele. Pensa no que deu certo sem planejamento ;-)

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  6. Esse negócio das perguntas ao casal... sei disso. O meu irmão passou pela mesma coisa, mas a família da esposa dele não tinha a menor sensibilidade.
    Eu e minha esposa nos referimos aos anos sem filhos como nosso período de "solteiro".
    Sem querer ser chato, mas sendo, adoção deu certo para nós.

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  7. Lindo, lindo, lindo... a vida como ela é.

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