A vitória da falta de modos
Tutty Vasques
A raça humana – ô, raça! - anda carente de paradigmas. Está cada vez mais difícil, como se sabe, dizer quem é o cara seja na política, nas artes, no meio sindical, no mundo GLS, nas organizações não governamentais, na badalação fashion, no crime organizado, na imprensa... Pegando o futebol como exemplo da hora, a gente percebe a dificuldade dos especialistas no assunto para apontar o nome da Copa. Zinedine Zidane tem sido lembrado muito mais pelo desfecho digno que ele vem imprimindo à sua biografia do que exatamente pelo esplendor do momento que vive na Alemanha.
Falando português claro, paradigma é o escambau, o mundo anda é medíocre pra caraca! Nessas horas - o filósofo Joel Santana me corrija se eu estiver errado -, surge sempre a figura do administrador de mediocridade como solução. Se ninguém faz a menor idéia de como resolver o problema melhor chamar quem saiba dele tirar o melhor proveito. Não pretendia tocar nesse assunto – do contra já basta o Diogo Mainardi -, mas quando Pedro Bial evocou o poeta russo Vladimir Mayakovsky para definir Felipão (“Nele a anatomia ficou louca, ele é só coração”), concluí que valia a pena dar minha cara à tapa para dizer o que penso a respeito do técnico da seleção portuguesa: acho ele o fim do mundo.
Azar o meu! O mundo inteiro – aí incluída a raça em extinção de pessoas inteligentes - está absolutamente encantado com toda aquela grosseria, força bruta, falta de modos, dificuldade com as palavras para dizer o que pensa, desequilíbrio emocional, teimosia, agressividade gratuita, desespero em forma de oração, tudo isso reunido numa coreografia assustadora à beira do gramado. Veja só como Pedro Bial justifica o gajo:
“Racionalidade? Scolari faz questão de não ser apresentado a essa senhora. Reclamar é parte importante no repertório de Felipão. Durante todo o jogo, ele não fica sentado mais do que 5 segundos. Seus assistentes levam cotoveladas, ele soca o abrigo, xinga o bandeirinha. Fiel ao jeito Felipão de ser não vai embora sem dizer uns desaforos para o juiz. Não é grave, como dizem os franceses.”
Pas grave é o escambau. Meu amigo Bial, como de resto quase todo mundo, parece enfeitiçado a ponto de transformar o que bem poderia ser denúncia em elogio. Parece que quanto mais estourado, fora de si, descontrolado, possuído e careteiro, melhor. Temo que o exemplo extrapole o futebol e atinja a política, as artes, o meio sindical, o mundo GLS, as organizações não governamentais, a badalação fashion, o crime organizado a imprensa... Imagine um mundo só de felipões! Pra mim, parece um pesadelo pior que o sonho do hexa.
Se aqui no Brasil esse desejo de felipização do mundo é maior que no resto do planeta, a culpa é do Parreira – sempre ele! -, que se comportou como o avesso do Scolari na Copa do Mundo. Aquela coisa deprimida no banco de reservas, defendendo falsas idéias em inglês nas entrevistas coletivas, fez nascer a expectativa pelo extremo oposto. Depois dele, o país apostou todas as suas fichas na vitória da boçalidade – pronto, falei! -, como se não existissem alternativas inteligentes na droga do mundo.
Se bem que, quando penso em Vanderlei Luxemburgo, me dá uma saudade danada do Felipão, apesar do Murtosa. Você sabe o que é Murtosa? Se não o conhece, favor apagar esse parágrafo. Caso contrário, não me provoque: não direi jamais o que penso a respeito.
sábado, 8 de julho de 2006
Era ISSO o que eu queria dizer
Claro que preferia eu mesma ter escrito o que vem abaixo. Enquanto não aprendo, sigo agradecendo que exista alguém que traduza o que estou pensando com mais competência.
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Acho que o Tutty está levando a sério demais o futebol. O Felipão é sim um excelente treinador, só não vê o cego ou o tolo. Quem assiste a uma partida de futebol pensando em outra coisa que não a vitória deveria tentar o golfe. Eu não gosto de golfe.
ResponderExcluirParece que o rapaz está perdendo o bom humor ou, como ele mesmo escreve, está se incluindo com muita convicção na "raça de pessoas inteligentes".
Inteligente como o Joel Santana, outra citação do Tutty. Inteligente, mas perdedor. No futebol, vá lá. Mas estávamos falando de outra coisa?
Não é no futebol que as pessoas se revelam como realmente são? O pouco que gosto de futebol é como metáfora da vida. Não consigo ver futebol "só" como futebol. Conheço muitos casos de gente boa que teve derrotas na vida por ter escrúpulos, educação, fair play etc. Acho que foi isso que ele quis dizer. Se não foi, foi o que eu quis dizer...
ResponderExcluir:-)